A Academia Marial de Aparecida e a Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) promoveram o 11º Congresso Mariológico do
Santuário Nacional, nos dias 09 a 12 de agosto de 2017. Realizado no Centro de
Eventos do Santuário, na Cidade de Aparecida, interior do Estado de São Paulo,
o Congresso contou com uma presença maciça de presbíteros, leigos e leigos,
religiosas e seminaristas. O tema: “Aparecida, 300 anos de fé e devoção” evoca
o tricentenário a descoberta de uma pequena imagem da Imaculada Conceição, por
três pescadores, nas águas do Rio Paraíba do Sul. A imagem de Maria, encontrada
no fundo do rio, em duas partes (a cabeça e o corpo) provocou na época uma
pesca milagrosa. E lentamente levou à difusão desta devoção à Nossa Senhora.
Espalhada por todo o país, “Nossa Senhora (Madonna) Aparecida” foi proclamada a
padroeira do Brasil em 1930. Embora invocada com o nome de “Aparecida” (pois
apareceu no fundo das águas), não se trata de uma “Aparição”, no sentido
estrito. Pois não há videntes, nem mensagens atribuídas a Maria.
O Congresso Mariológico teve como objetivo principal estudar
sobre o fenômeno de Aparecida, com o múltiplos olhares da teologia, da pastoral
e das Ciências da religião. A Conferência da Abertura, intitulada “As
hermenêuticas de Aparecida”, foi apresentada pela teóloga Maria Clara Bingemer
(PUC – Rio), na primeira noite. O segundo dia do Congresso iniciou com a
celebração eucarística presidida pelo Arcebispo de Aparecida, Dom Orlando
Brandes. A seguir, a Conferência “A história da devoção a Aparecida no contexto
do catolicismo popular”, proferida pelo historiador Frater Dilermando Ramos
Vieira, OSM. A tarde de trabalho foi coordenada pelo grupo de pesquisadores de
Ciências da Religião da PUC-SP. O painel foi composto por Denise Ramos (A
imagem das águas: leitura junguiana) e
Edin Abumanssur (Análise comparada dos mitos de origem dos Santuários
brasileiros). Seguiu-se uma “mesa redonda”, com perguntas e intervenções dos
participantes. O período da noite foi dedicado ao momento cultural, com
lançamento de livros e apresentação da Orquestra sinfônica do Santuário
Nacional. Convém citar que esta orquestra é composta em grande parte por jovens
pobres da região, que aprendem gratuitamente a desenvolver seu talento
artístico, como forma de promoção social.
O terceiro dia do Congresso de Mariologia iniciou-se, como
sempre, com um momento orante. A seguir, a conferência “A devoção a Aparecida e
a identidade nacional brasileira”, proferida pelo sociólogo Rubem Cesar
Fernandes. Na segunda parte da manhã aconteceram seminários simultâneos. Os
participantes se inscreveram em um deles. Metodologia diferente das conferências,
esses seminários visavam abordar algum tema mariano específico, com maior
interação entre os participantes. Foram os seguintes, com os respectivos
coordenadores: (1) A composição do espaço sagrado do Santuário Nacional de
Aparecida – Zenilda Cunha; (2) Aparecida em números – Jorge Sampaio; (3) Maria e as mulheres – Cecília Domezi; (4)
A mariologia de Lutero – Haidi Jarschel, (5) Visita Guiada ao santuário. No período da
tarde, o Irmão Afonso Murad apresentou a conferência “Devoção a Maria –
Ancoragem e perspectivas”. A seguir, aconteceu mais uma rodada de Seminários
simultâneos: (1) Devoção mariana entre
Portugal e Brasil – João Emanuel Duque (Portugal); (2) A pastoral do Santuário: um balanço
histórico – Vitor Hugo; (3) Aspectos
teológico-pastorais da devoção a Maria – Agenor Brighenti; (4) Visita Guiada ao
Santuário. Este longo e produtivo dia de trabalho se encerrou com a mesa
redonda “A devoção mariana na América Latina. Entre o popular e o oficial”, sob
a coordenação de Lina Boff.
O último dia do 11º Congresso Mariológico foi abrilhantada
com a Conferência de Encerramento, apresentada por Dom Francisco Biasin, bispo de Volta Redonda
(RJ). Após a apresentação do conferencista, que discorreu sobre os elementos
fundamentais da mariologia bíblica, houve espaço para perguntas e observações
dos participantes. A parte da tarde foi destinada à Assembleia dos Associados
da Academia Marial. Por fim, a celebração eucarística coroou estes dias de
intensa reflexão, estudo e oração.
Alguns aspectos merecem destaque neste evento:
(1) Esse congresso mariológico de Aparecida foi antecedido
por outros congressos anuais. Em relação aos anteriores, pode se dizer que ele
foi mais teológico do que devocional. Respondeu assim a uma necessidade
pastoral de iluminar a piedade mariana com uma reflexão respeitosa e
consistente.
(2) O congresso realizou seu intento de refletir sobre o
fenômeno de Aparecida, de forma multidisciplinar. Neste sentido, os
pesquisadores das Ciências da Religião trouxeram importante contribuição, ao
mostrar, por exemplo, a força do mito nas devoções e a associação do culto a
Maria com a figura arquetípica da “Grande Mãe”. Tal abordagem amplia a nossa
visão. E fornece elementos para um discernimento pastoral, que distingue os
fatores teológicos daqueles culturais.
(3) O acontecimento abriu novas portas para a pesquisa da
teologia e das Ciência da Religião. Mostrou que as duas ciências podem estar
juntas e estabelecerem uma colaboração recíproca, respeitando a especificidade
de cada saber.
(4) O Congresso não
foi um evento isolado. Ele fez parte de uma série de celebrações, encontros,
cursos, seminários, peregrinações e vigílias que marcaram o “Ano Mariano da
Igreja do Brasil”, em comemoração aos 300 anos da manifestação de Maria, como a
“Senhora Aparecida”.
(5) O Congresso
mariológico de Aparecida se somou a outros importantes eventos de natureza
acadêmica, durante o ano mariano. A título de exemplo, citamos aqui: o Simpósio
Internacional Mariológico, promovido pelo Santuário N.S. de Fátima e a
Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP); o VII Simpósio de Teologia
PUC-Rio, com o tema Maria: Escritura, Teologia e Religiosidade; e o Congresso
de Mariologia: Piedade Popular, Cultura e Teologia, da PUC Rio. Em diferentes
graus, tais eventos mostraram que a devoção mariana necessita articulação com a
mariologia bíblica e dogmática. E que a devoção, tão saudável, precisa ser
regida por critérios teológico-pastorais e centrar-se em Jesus Cristo.
(6) A organização do Congresso preparou um livro, no qual já
se encontravam as principais conferências, painéis, mesas redondas e até os
temas de alguns seminários. Com o título do Congresso, “Aparecida, 300 anos de
fé e devoção”, a obra editada pela Editora Santuário contém 14 artigos,
divididos em: (a) 300 anos depois; (b) As dinâmicas da devoção; (c) A fé e a
vida. Trata-se, na verdade, dos Anais do conteúdo teológico-pastoral do
Congresso. Tal procedimento é essencial para conhecer e difundir as
contribuições do Congresso para a mariologia atual.
Esperamos que o 11º Congresso Mariológico de Aparecida,
desta vez com caráter internacional, fomente uma devoção mariana equilibrada,
madura e centrada em Jesus.
Ir. Afonso Murad