Certa vez, Jesus estava com seus discípulos e a
multidão, quando alguém lhe disse: “Sua mãe e seus irmãos estão ali fora e
querem vê-lo”. Jesus respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem
a palavra de Deus e a colocam em prática” (Lc 8,19-21). Será que ele tratou mal
à sua mãe? Teria esquecido a sua dedicação?
Um fato de hoje ajuda a entender a atitude de
Jesus. Luis Carlos é voluntário da Pastoral dos enfermos. Nos hospitais, visita
especialmente os que estão nas enfermarias e não recebem atenção dos outros. Veste
um jaleco branco com o crachá de identificação. Um dia, se aproximou de uma mulher
que estava sozinha. Quando ela o viu, reagiu: “Você não é da minha religião.
Não quero saber de sua conversa! Vai embora”. Então Luis saiu, retirou o jaleco
e o crachá. Voltou e lhe disse: “Joana, você aceita a visita de um amigo?” Meio
sem graça, ela consentiu. E assim, Luis vinha visitá-la toda a semana. Até que
um dia soube que Joana havia ganhado alta. Meses depois, quando estava no
ônibus, alguém lhe bate no ombro. Luis se vira e vê Joana de pé. Ela olha nos
seus olhos e diz emocionada: “Muito obrigado! Você foi para mim um irmão.
Quando eu senti muita solidão e nenhum parente veio me visitar, você foi mais
do que alguém da família!”
Jesus gostava muito de sua família. Ele recebeu
boa educação de Maria e José, e não faria uma desfeita para sua mãe. No
entanto, quando Jesus começou a sua missão, ele convocou homens e mulheres para
fazer parte de uma nova família, não mais ligada por laços de parentesco. Nessa
nova família o que importa era “ouvir a palavra e colocá-la em prática”, ser
discípulo de Jesus, como a terra boa que acolhe e frutifica a semente do
Evangelho (Lc 8,15). Alguns parentes não aceitaram a proposta de Jesus e o
rejeitaram (Mc 6,1-6).
Para Maria, a realidade foi outra. Ela não foi
somente a mãe biológica, mas também aderiu ao grupo dos seus seguidores/as de
Jesus. Acompanhava seu filho e os discípulos pelos povoados da Galileia. Na hora da cruz, Maria está ao lado de Jesus,
com outras mulheres e o discípulo amado (Jo 19,25). Ela também participa da preparação
de pentecostes (At 1,14 e 2,1). Maria fez parte tanto da família biológica de
Jesus, quanto da nova família dos discípulos-missionários. Assim se entende a
resposta de Jesus à mulher que, na multidão, elogia sua mãe biológica: “Felizes
o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram”. Jesus diz: “Antes,
felizes os que ouvem a palavra de Deus e a praticam” (Lc 11,27s). Tal expressão
não é uma crítica, mas sim um elogio a Maria. Ela, mais do que ninguém, acolheu
a palavra de Deus inteira e intensamente. Vivenciou-a de tal forma que se
tornou, para todas a gerações, um modelo de fé, de amor solidário e de
esperança.
Afonso Murad - Publicado no Folheto O Domingo - Ano Mariano
Imagem: Sieger Koder - Partilha do pão
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