domingo, 24 de abril de 2016

Maria no Ano Litúrgico

Cada um de nós dirige sua oração diretamente a Deus ou recorre à intercessão dos Santos. As expressões devocionais, como as novenas, ladainhas, a oração do terço (rosário) são livres, de forma que podemos utilizá-las para manter nossa sintonia com Deus. Como Igreja, somos uma comunidade organizada, com ritos e normas. Assim, a oração litúrgica é mais definida do que a devoção, tanto na forma de realizar quanto na disposição do tempo. Há um ciclo anual, que começa com as quatro semanas do advento, passa pelo tempo do natal, segue durante boa parte do ano no “tempo comum”, concentra o apelo à mudança de vida durante os 40 dias da quaresma e celebra a alegria da ressurreição e os seus frutos em 7 semanas, culminando com Pentecostes.

As comunidades locais, na sua prática litúrgica, mantêm fórmulas e elementos comuns, que as caracterizam como católicas, mas também criam novas formas de expressão da fé, a começar de cantos e gestos. Você já participou da liturgia para crianças ou de missa com estilo afro-brasileiro? Elas expressam o jeito típico de rezar de um grupo, como parte da mesma Igreja. Promover a liturgia, simultaneamente católica e inculturada, ajuda a comunidade a celebrar com mais significado.

Na liturgia reformada depois do Concílio Vaticano II, Maria foi recolocada em íntima relação com o mistério de Cristo e da Igreja. No correr do ano litúrgico, há três tipos de celebrações marianas, por ordem de importância: as solenidades, as festas e as memórias. As solenidades, como o nome indica, constituem as celebrações mais importantes, com um sabor especial. Em todo o mundo elas são quatro: Maria, Mãe de Deus (1o de janeiro), Anunciação (25 de março), Assunção (15 de agosto) e Imaculada Conceição (8 de dezembro). Em cada diocese e país, há ao menos uma solenidade. Dentre as festa marianas, recordamos a da Visitação (31 de maio). Existem várias memórias marianas, como: nascimento de Maria (8 de setembro), NS. das Dores (15 de setembro), NS. de Fátima (11 de fevereiro), NS. do Carmo (16 de julho) e NS. Rosário (7 de outubro). Algumas delas são memórias facultativas, ou seja: opcionais. Uma celebração de memória pode ser, para determinada Igreja local ou regional, uma solenidade. Para a América Latina, a memória de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro) se transformou em solenidade, pois ela foi proclamada padroeira de nosso continente. Para o Brasil, Nossa Senhora Aparecida, que era uma memória, foi elevada ao grau de solenidade.

Nas solenidades, festas e memórias de Maria, os padres e as equipes de liturgia devem ajudar a comunidade eclesial a conhecer mais e melhor a mãe de Jesus. Essas ocasiões servem também para relacionar Maria com Jesus e a comunidade cristã.

sábado, 9 de abril de 2016

Maria e a misericórdia recriadora de Deus

Luis Carlos, advogado, atua numa organização cristã que trabalha na recuperação de presidiários. A proposta, reconhecida internacionalmente, traz resultados surpreendentes. O método privilegia o desenvolvimento das qualidades humanas, a convivência e a fé, vivida de forma ecumênica. Ele se envolveu tanto com o movimento, que renunciou a outras atividades para se dedicar exclusivamente a esta causa. Certa vez, seu irmão de família foi assaltado por um ex-presidiário. Além de roubar-lhe os objetos pessoais, o assaltante bateu muito no rapaz, a ponto de deixar marcas visíveis no seu corpo. Luis Carlos entrou em crise! Por que aconteceu isso justamente com ele, que consome dias e noites em defesa dos presidiários? Vale a pena continuar acreditando que a bondade pode vencer a maldade e a violência?
Lentamente e com muita oração, Luis Carlos transformou a indignação e o ódio, em perdão e reconciliação. E disse: “Agora vou continuar a trabalhar mais intensamente na recuperação de presidiários. Pois entendi que assim é o amor de Deus com a gente. Ele não nos ama porque somos bons, mas sim porque Ele mesmo é bom”.
Na Bíblia, se diz muitas vezes que Deus é misericordioso, que tem compaixão de nós. No Salmo 103,1-14 se diz que ele não nos trata na medida das nossas culpas e erros. Conhece nossa fragilidade. Seu amor não tem fim! Maria, a mãe de Jesus provou de maneira única esta misericórdia de Deus, seu amor apaixonado por nós, pois nos ama sem limites.
No seu canto, o Magnificat, Maria proclama que Deus se volta preferencialmente para os fracos, famintos e humilhados. Exerce assim sua misericórdia (Lc 1,51-54). Enquanto mãe de Jesus, Maria experimentou “na carne” como Deus é tão grande, a ponto de se fazer pequeno e frágil como uma criança. O máximo da misericórdia é se “rebaixar” para estar próximo. Deus nos entende por dentro, pois seu Filho se fez igual a nós em tudo, menos no pecado (Hb 4,15).
 Acompanhada por João e outras mulheres, no caminho de Jesus até a cruz, Maria passou pela “noite escura da fé”. Como meu filho, que é tão bom e justo, vai morrer, condenado injustamente como um criminoso?
Na ressurreição de Jesus, ela então compreende que Jesus amou a todos até o fim (Jo 13,1). Gesto supremo de amor e de entrega, que a humanidade não merecia (Rm 5,8). Jesus nos salvou, por sua vida, morte, ressurreição e envio do Espírito Santo. Maria participou de perto deste processo, colaborando como mãe e discípula. Celebrou a misericórdia divina, saboreou-a, passou pela crise e a perplexidade, viveu as surpresas de Deus. Pode enfim, afirmar: em Jesus, a misericórdia de Deus vence o mal!
Hoje, na glória de Deus, junto com seu Filho, Maria Mãe de misericórdia nos acolhe em seus braços. É sinal da ternura recriadora de Deus. E ela nos pede para sermos misericordiosos com os outros, como fez Jesus (Lc 6,36).