sexta-feira, 25 de março de 2016

Maria se compadece da Terra ferida

Seu Antônio, 80 anos, morava em Bento Rodrigues, perto de Mariana, em Minas. Ele se lembra com saudade do quintal e da horta, onde cultivava frutas e verduras. Em novembro de 2015 o povoado foi totalmente destruído, devido ao rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Samarco. Além da morte de alguns parentes, os moradores perderam sua história, suas raízes. Hoje, eles lutam para ter volta suas casas e reconstruir a comunidade. A mineradora não cumpriu ainda as promessas de devolver o que o povo perdeu.

Dona Maria e seu Pedro moram na beira do Rio Doce, no Espírito Santo. Ali cultivavam arroz, feijão, mandioca e outras coisas. Criavam galinhas e leitões. Ele também vivia como pescador. A lama derramada em Mariana desceu pelo rio, e por onde foi passando deixou um rastro de morte. Acabaram-se os peixes e os camarões de água doce. Eles passaram um tempo sem pegar água do rio. Consumiram os animais, que não tinham mais água para beber. Como Maria e Pedro, centenas de milhares de pessoas no Vale do Rio Doce foram atingidas. Morreram peixes e pássaros. E a lama, contaminada com metais perigosos (como arsênio, manganês, chumbo), ainda causará enormes danos nas plantas, nos animais e nos seres humanos. A terra está ferida de morte!

Agora, pessoas e organizações se uniram para exigir que a Samarco trabalhe efetivamente para recuperar o rio. Será uma tarefa de vários anos, que envolverá muita gente. Destruir é tão fácil. Reconstruir exige mais. O tema da Campanha da Fraternidade de 2016 continuará atual: Casa comum, nossa responsabilidade. A luta pelo saneamento básico (água, esgoto e resíduos) permanece.

Maria está conosco, na dor da Terra e na luta pela Vida. Como diz o Papa Francisco: Maria, a mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido. Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também agora se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste mundo exterminadas pelo poder humano (LS 241).

(Publicado na Revista de Aparecida, fev 2015)