segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Imaculada Conceição: o bom começo

Quando eu era criança, cantava: “Ó Maria, concebida sem pecado original/ Quero amar-vos toda a vida, com ternura filial”. Mas eu não entendia bem o que era este tal pecado, que não me parecia nada original. Afinal, se Adão e Eva fizeram uma coisa errada no passado, o que temos a ver com isso? Depois compreendi que essa música fala de algo atual, que marca a humanidade. Cada um de nós, e toda a comunidade humana, experimentamos o mistério do mal. Quantas vezes a gente quer fazer o bem, ser inteiro nas decisões, perdoar, exercitar a generosidade, lutar para melhorar o mundo... Mas as nossas realizações ficam abaixo dos bons desejos. Vivemos uma divisão interior, uma fragilidade, uma tendência ao mais fácil e imediato.

O dogma da Imaculada afirma que Maria, sendo humana como nós, recebe de Deus uma graça especial, para ser forte diante das tentações do mal, assumir com inteireza suas decisões e ser proativa. E assim ela fez, como nos mostra o evangelho: ouviu a palavra, guardou no coração e frutificou. A graça de Deus, quando atua no ser humano, é sempre uma estrada de duas mãos. De um lado, o Senhor nos oferece sua presença irradiante, que purifica, perdoa, fascina, integra e convoca para a missão. De outro lado, a gente responde, ao viver na fé, na esperança e no amor solidário. Portanto, o dogma da Imaculada não fala somente de um privilégio de Maria, mas sim da vitória da graça de Deus nela. E isso tem enorme valor para toda a humanidade. Mostra que o mais original no ser humano não é o pecado, a mediocridade, as sombras, mas sim o dom de Deus, a criatividade, a luz.

Desde o início Deus nos chama para a comunhão com ele. Assim já experimentaram os profetas: “Antes de saíres do ventre de tua mãe, eu te conhecia, e te consagrei (Jr 1,5)”; “O senhor me chamou desde o ventre materno (Is 49,1)”. Maria, mais do que ninguém, viveu esta inteireza da resposta a Deus: “Um coração que era sim para a vida/ Um coração que era sim para o irmão. Um coração que era sim para Deus, Reino de Deus renovando este chão!”.
Como é bom celebrar a festa da Imaculada no tempo do Advento. Assim, recordamos que Maria foi preparada por Deus para a missão de mãe, educadora e discípula de Jesus. E que ela também se preparou, cultivando o amor e interpretando os Sinais divinos na história do seu povo. Com José, viveu o tempo de espera da gravidez e a alegria do nascimento.


Que Maria imaculada nos prepare para o natal. Que a nossa casa e o nosso coração sejam como o presépio que acolhe o Deus-menino. Belém é aqui e agora. Junto com a multidão de homens e mulheres de toda a Terra nos alegramos porque o Senhor visitou definitivamente este mundo, com uma luz que não conhece o ocaso. Assumiu, com sua encarnação, a nossa bela e frágil história humana. Santificou todos os seres. Por isso, cantamos: “Glória a Deus nas alturas, e paz para a humanidade e cuidado com a Terra!” Amém!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Maria em Santo Agostinho

Dom Vital, bispo de Marabá

Dia 08 de dezembro celebramos a festa da Imaculada Conceição. O Vaticano II tomou muito de Santo Agostinho (354-430) a respeito de Maria Imaculada, bem como a concepção de Igreja, esposa de Cristo, chamada a viver a situação de Maria no mundo de hoje. A seguir vejamos alguns dados vindos dos discursos agostinianos sobre Maria, Mãe de Cristo, Mãe da Igreja.

1.Maria fez a vontade do Pai

Agostinho fala da grandeza de Maria como aquela que fez a Vontade do Pai. Em dois discursos(25,7-8; 72A, 7-8) falou o bispo de Hipona a respeito da importância de Maria na vida do Senhor e na Igreja. Interpretando o evangelista e apóstolo Mateus(cf. Mt 12, 49-50) na qual alguém fez notar a Jesus que sua mãe e seus irmãos estavam de fora perguntou Jesus quem seriam tais pessoas e apontando aos discípulos afirmou que sua mãe e seus irmãos são aqueles que fazem a vontade do seu Pai que está nos céus, sendo dessa forma irmão, irmã e mãe em Jesus Cristo. Para Agostinho a Virgem Maria fez a Vontade do Pai, na qual foi concebida, escolhida pelo Pai porque dela a salvação nascesse para nós entre os seres humanos e foi criada por Cristo antes que Cristo viesse criado nela. Maria fez a vontade do Pai ao dizer sim ao seu plano de salvação de modo que o seu Filho pudesse vir a este mundo para salvá-lo de seus pecados. 

2. A sua santidade

Maria é percebida como santa porque cumpriu inteiramente a Vontade do Pai, de modo que conta mais a sua situação de discípula de Cristo que ser sua mãe. Maria viveu o discipulado no Senhor, manifestando uma sua vida de santidade. Ela é bem aventurada porque antes de dar o Mestre na carne, o levou no seio. Maria foi feliz porque antes de dar à luz ao Senhor, o trouxe na mente. E para dar uma maior demonstração, Agostinho tem presentes a atuação de Jesus Cristo que sendo acompanhado pelas multidões e realizando milagres divinos percebeu uma mulher ao exclamar-lhe: bem-aventurado foi o seio que trouxe Jesus ao mundo e também o seu ventre(cf. Lc 11,27). O Senhor Jesus diz a ela e para todos os seus discípulos, discípulas que muito mais felizes são os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam em seu coração(cf. Lc 11,28). 

3. Ouvir e guardar a Palavra

Para Santo Agostinho, Maria é feliz, bem-aventurada, porque não só ouviu a Palavra de Deus mas a guardou no seu interior. Ela viveu a verdade de Deus no coração mais que a carne no seio. Para ela, é Cristo a verdade no seu coração porque se tornou pessoa humana no seu seio. Maria foi uma mulher que guardava tudo em seu coração, meditando as maravilhas do Senhor realizadas através dela, sua serva. 

4. O ser de Maria: Imaculada Conceição 

A Virgem Maria precedeu a Igreja como sua figura. Na obra Primeira Catequese aos não Cristãos (XXII,40) afirmou Agostinho que Jesus nasceu de uma Virgem chamada Maria que viveu esta realidade não só na concepção, mas no parto e até a morte iluminando dessa forma a vida da Igreja. 
Maria foi concebida sem o pecado original por graça de Deus. A Igreja deve seguir os passos de Maria ainda que neste mundo haja as deficiências, as limitações, os pecados junto com a graça do Senhor. No entanto é maior a graça que o pecado. Um dia viveremos livres do pecado de modo que também nós seremos por graça do Senhor, imaculados. Assim é Maria mãe de Cristo pelo fato de dar à luz os membros de Cristo, que somos todos nós. Maria é porção da Igreja, membro excelente, membro do corpo total. A cabeça é o Senhor, diz Agostinho. Por sermos membros de Cristo, a Igreja nos acolheu pelo batismo como seus membros de modo que fomos levados à luz da verdade, que é Jesus Cristo. Esta mãe santa, digna de honra, semelhante a Maria, dá a luz e é virgem, porque o dom vem de Deus. 

5. Maria é a advogada de Eva

Os Padres da Igreja tiveram bem presentes a queda do primeiro Adão e a graça do segundo Adão, Jesus Cristo, doutrina bem desenvolvida no Apóstolo Paulo. Da mesma forma, dirão os Padres em relação à primeira e a segunda mulher. Agostinho seguiu os padres anteriores, sobretudo Justino, Tertuliano, Orígenes em relação à Eva e a Maria. Se por meio de uma mulher(Eva) a morte caíra sobre nós, por meio de outra mulher(Maria) a vida ressurgiu em nós. em modo que o diabo fosse vencido em relação à uma e outra natureza, masculina e feminina com a presença do Senhor Jesus, vencedor da morte e do pecado pela cruz e sua ressurreição. 

Conclusão 

Santo Agostinho expressou bem o mistério da Imaculada Conceição da Virgem Maria, Mãe de Deus, sem o pecado por graça do Senhor. Maria leva nossos pedidos ao seu Filho Jesus Cristo. Agostinho estimula às pessoas para que vivam como Maria, mulher meditativa, orante e disposta a servir as pessoas, sobretudo os pobres. Ela viveu a graça de Deus na simplicidade e no amor. Ela nos ensina a superar o mistério do mal e do pecado, em nossas vidas tanto na família, como na comunidade e na sociedade uma busca de conversão contínua ao Senhor Jesus, aos outros e conosco mesmos. Maria ajuda-nos a servir as pessoas na pessoa de Jesus Cristo fazendo sempre a vontade de Deus Uno e Trino.