quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Maria e a solidariedade. Homenagem à Vida Consagrada

Faz alguns anos, uma comunidade de religiosas foi enviada para a missão no meio dos pobres, numa cidade no interior do Maranhão. Sua congregação havia nascido para estar próxima dos mais fracos e necessitados. Mas, com o tempo, se concentrou em escolas e pensionatos, em que só entravam as meninas de famílias ricas. A comunidade atual é constituída de três freiras. Helena atua como professora na escola pública do bairro. Heloísa acompanha a pastoral da criança. E Cristina se dedica às outras pastorais sociais. Elas vivem de seu trabalho e colocam tudo o que recebem numa “caixa comum”. As Irmãs estão muito felizes nesta “comunidade inserida nos meios populares”. A vida é exigente; e o dinheiro, curto. Dá para pagar as despesas e sobra só um pouquinho.

Outro dia, um rapaz do bairro, viciado em crack, arrombou a porta da casa das Irmãs e roubou tudo o que encontrou, para com isso comprar a droga. Pegou a comida e o dinheiro. De noite, quando chegaram, as freiras perceberam o que tinha acontecido. As mulheres da vizinhança também logo ficaram sabendo. Foi uma noite de tristeza. Helena, a coordenadora da comunidade disse: “Não sei o que vamos fazer. Estamos sem dinheiro e sem comida. Nós escolhemos estar aqui com o povo e, na medida do possível, ser como ele”. Elas comeram umas laranjas e foram dormir, com fome.

No dia seguinte, bem cedinho, Dona Aparecida veio à casa delas. Trouxe café e broa de fubá, que ela mesma tinha feito. Depois, a outra vizinha veio com macarrão. E assim, durante alguns dias, as Irmãs foram ajudadas pela comunidade do bairro, até que recebessem seu salário.  Helena ficou emocionada: “Nós viemos aqui para ajudar os mais necessitados. E aprendemos uma grande lição de partilha”.

Faz muito tempo, muito tempo mesmo, a jovem Maria de Nazaré saiu às pressas de sua casa para estar próxima de sua parenta Isabel. Deve ter feito uma viagem difícil, mesmo que não fosse longe. Partiu com o desejo de ajudar, de compartilhar seu tempo, sua presença. Aparentemente, não tinha muito o que oferecer. O que uma menina de provavelmente 16 anos, no início da sua gravidez, pode ensinar para uma mulher idosa a respeito do assunto? Talvez ajudar a fazer a comida, limpar a casa, conversar na beira do fogão sobre as esperanças comuns. Rir juntas, ver a estrelas... Maria foi lá para ajudar, e aprendeu muito com Isabel. O evangelista Lucas narra que o encontro destas duas mulheres foi uma explosão de alegria, animada pelo Espírito Santo. Maria  voltou para casa, três meses depois, mais fortalecida na sua fé. Tomou consciência do que estava acontecendo com ela. Viveu o início da gravidez ao lado de outra mulher, que já estava no mesmo caminho há seis meses. Assim, preparou-se melhor para o nascimento de Jesus.


Como aconteceu com Maria de Nazaré, assim se passou com Irmã Helena e sua comunidade. As atitudes e os gestos de solidariedade são como uma estrada de duas mãos, de ida e de vinda. A gente vem com o simples desejo de ajudar, de estar próximo. E volta enriquecido/a com o que recebe dos outros. Maria de Nazaré, a “serva do Senhor”, se faz solidária com Isabel. Irmã Helena, consagrada a Jesus como religiosa, se faz solidária com o povo pobre da periferia. Ambas aprendem muito, pois o amor dilata as nossas possibilidades humanas. Que Maria abençoe homens e mulheres dedicados a Deus e aos outros, especialmente neste ano da Vida Consagrada!