Depois da missa, todos nos sentamos, esperando... Um grupo de umas 50 meninas entrou cantando, com a catequista e o violeiro da comunidade: “Maria de Nazaré, Maria me cativou. Fez mais forte a minha fé, e por filha me adotou”. O canto tomou conta da Assembleia, e entoamos juntos a mesma música. Não era um espetáculo para ver, e sim uma celebração para participar. As crianças pequeninas entraram em fila até a frente, onde havia uma imagem de Nossa Senhora Aparecida sobre um pedestal. Nenhuma delas vestia roupa branca, sem levava nas costas as asas de anjos. Estavam todas com o uniforme da escola. Estranhei aquilo. Não estava acostumado. Então, uma delas trouxe uma coroa feita de flores e colocou sobre a cabeça da imagem, subindo pela escadinha. Salva de palmas!!! E rezamos então várias Ave-Marias. E as meninas se retiraram, alegres, cantando novamente. E algumas delas lançavam pétalas de flores (rosas, margaridas, beijos), que haviam colhido nas casas e nos quintais do próprio bairro.
Então, perguntei curioso à catequista: “Por que as crianças não estavam vestidas de anjos?” Ela me disse: “A comunidade aqui é muito pobre. Várias meninas moram na favela e não tem condição de comprar a roupa e os enfeites. Por isso, escolhemos o uniforme da escola. Assim, todas aquelas quiseram, participaram. E procuramos valorizar ao máximo as coisas da comunidade”. Vamos comprar as roupas de festa e as asas, quando tivermos dinheiro. Vai ser de uso coletivo!
Voltei
para casa contente e pensativo. Penso que Maria, lá no céu, deve ter ficado
muito feliz com esta homenagem que veio das pequeninas. Teria um jeito melhor
de louvar a Deus pelas maravilhas Ele que fez em Maria? A coroa de Maria não é
aquela do luxo, da ostentação, da vaidade, nem dos privilégios. No livro do
Apocalipse se diz que Jesus glorificado dará a coroa da Vida aos que perseverarem na fé. Maria não recebeu uma
coroa de ouro, e sim a coroa da Vida. Ela já participa da glória de Deus, junto
com seu filho Jesus e outros santos, que trilharam o caminho da fé, da
esperança e do amor neste mundo.
Aquela
comunidade, com a beleza do canto, a simplicidade das vestes, o jeito
comunitário de celebrar, a acolhida aos mais pobres, prestou uma justa
homenagem à Mãe de Jesus. Ela mesmo, a Maria de Nazaré, no canto que entoou na
casa de Isabel, dizia: “Deus olhou para a humildade de sua servidora. De agora
em diante, todas as gerações me chamarão de Bem-aventurada (feliz)”. Maria é
uma rainha diferente. Seu trono não tem um lugar fixo nem forma definida. Pode
ser um banquinho da cozinha. Ou as pedras de um recanto, que servem para
descanso e acolhida. Importa reconhecer que ela participa do Reinado de Cristo.
O reinado de Maria é o reinado de Jesus, nosso mestre e Senhor. Ela, nossa companheira de caminho, faz mais forte a nossa fé e nos adota como filhos e filhas, como bem disse o Padre Zezinho. Um reinado de serviço, de doação, de bondade, de promoção das pessoas e da sociedade, como refletimos na Campanha da Fraternidade deste ano. Por isso, na tradicional oração mariana se diz: “Salve, Rainha, mãe de misericórdia. Vida, doçura e esperança...”
(Publicado na Revista de Aparecida)