terça-feira, 23 de dezembro de 2014

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Quero dizer sim a Deus (Maria em canto-3)

Eu quero dizer sim ao Deus meu Criador,
meu coração se alegra ouvindo a vossa voz.

 Eis a minha vida, tomai meu coração,
as minhas mãos usai para acolher tantos irmãos;
Eis minha liberdade e o meu entendimento,
sejais Senhor a única razão do meu viver.

Fazei da minha vida um apelo a união
aos homens que se agridem e promovem a divisão.
A morte foi vencida e o amor triunfará:
o negro, o branco e o índio se abraçando como irmãos.

Não mais quero pedir senão a vossa graça
que todo o meu viver seja pra vossa imensa glória.
E a terra cantará e os homens louvarão
a vós Senhor o único Deus vivo e criador.
Lindberg Pires


sábado, 8 de novembro de 2014

Caná: a festa de novo

Se o evangelista João vivesse hoje, talvez ele contasse a história das Bodas de  Caná de outro jeito. Ele poderia dizer assim:

Aconteceu uma festa de bodas de ouro, numa cidade chamada Caná. Zélia e Antônio chamaram os filhos e cunhados(as), os netos e outros parentes para comemorarem juntos os 50 anos bem-vividos no amor e na fidelidade. Também vieram muitos amigos. Maria, a mãe de Jesus, que já conhecia os dois há muito tempo, veio ajudar na decoração da festa. Jesus e seus seguidores também foram convidados. Havia comida e bebida em abundância. Tudo parecia ir  bem.

No entanto, Ernesto, o filho mais velho do casal, era muito ambicioso. Ele comentou à mesa que, quando os pais morressem, iria entrar na justiça para conseguir a maior parte da herança. Achava que tinha este direito, pelo fato de ter ajudado os pais desde jovem. Ana, uma de suas irmãs, ao ouvir isso, ficou com muita raiva e se levantou rapidamente. Aliás, ela já tinha brigado com Ernesto outras vezes, e se considerava a filha rejeitada, que não recebia a atenção dos pais e dos irmãos. Foi para um canto, e chorava sem parar. A mãe de Jesus, que estava perto, viu tudo e logo percebeu que, desse jeito, a festa ia acabar!

Então, Maria procurou por Jesus, mas não o viu no meio dos convidados, pois ele estava do outro lado da casa. Pegou o celular e mandou uma mensagem de texto para Jesus:
- Eles estão brigando. Sem amor, não tem festa.
Jesus respondeu logo:
- O que nós temos a ver com isso? Minha hora ainda não chegou.
Maria ficou pensativa. Procurou uma forma de resolver o problema. Então, se aproximou de Ernesto, e falou com firmeza:
- Jesus está à sua procura. Vá ao encontro dele. Faça tudo o que ele lhe disser!
Depois, fez o mesmo com a irmã dele, Ana. E repetiu para ela:
- Faça tudo o que Jesus lhe disser.

Quando Jesus viu Ernesto e Ana se aproximarem, colocou-os um ao lado do outro. Tomou um copo cheio de água e derramou-o no jardim. Então, com o copo vazio, disse a Ernesto:
- De que vale ao ser humano ganhar o mundo inteiro, se perder o que tem de mais precioso? Abandone sua ambição, pois ela faz secar o coração humano.

Depois, Jesus tomou uma taça de vinho e mostrou para Ana:
- Olhe para seu pai e sua mãe. Eles chegaram até aqui unidos porque cultivaram o perdão e o carinho. O amor deles é como este vinho saboroso, provado no tempo. Deixe o rancor de lado, pois ele faz o vinho do seus sentimentos se tornar um vinagre azedo.

A mãe de Jesus observava tudo. Acompanhava as palavras e os gestos de Jesus. E ficou radiante de alegria ao ver os dois irmãos se reconciliarem. A festa se  transformou! Os discípulos de Jesus comentaram: “Isso é um milagre”.
Este foi o primeiro sinal realizado por Jesus. Ele começou a manifestar a sua glória e seus discípulos iniciaram o caminho da fé, crendo nele: Jesus é a água viva e o vinho sempre novo!


Experimente, você também, contar de outro jeito a história Bodas de Caná. Use fatos e imagens da sua vida. O que Jesus transformaria nela? Relembre os gestos de Maria e a ação de Jesus.
(Afonso Murad - Publicado na Revista de Aparecida)

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Viver as surpresas de Deus

Carlos e Luzia estavam conheceram-se no Grupo de Jovens. Naquele tempo, eram somente bons amigos. Carlos tocava violão, Luzia cantava muito bem. Depois, tornaram-se adultos e continuaram a atuar na Pastoral de Juventude, como assessores. Cada um fez seu caminho pessoal e profissional. Ela viveu uns namoros incertos. Ele gostava de “ficar com as meninas”, sem compromissos. Colecionava a lista das namoradas. Um dia, os dois se encontraram num passeio, sem esperar ou planejar, e se olharam de maneira diferente. Ele começou a tocar umas músicas, e ela cantou junto. Que surpresa! Um dueto lindo! Sintonia afinada. Daí começou um amor, que se consolidou no tempo. Para Luzia, o coração disparou. Carlos conta que naquele momento sentiu algo diferente, que nunca tinha experimentado. “Percebi que Deus veio ao meu encontro. Foi uma reviravolta. Renunciei a muitas coisas, refiz meus planos e hoje estou feliz”, diz ele. Do encontro inesperado e do encanto da música nasceu o amor intenso.

Maria, a mãe de Jesus também viveu momentos inesperados. Se a gente acompanha a vida dela, vê como Maria foi surpreendida por Deus. Soube acolher as surpresas e percebeu os sinais de Deus na vida. Tudo começou um dia em Nazaré da Galiléia. Uma cidade do interior, desconhecida para muitos. Talvez a jovem Maria nutrisse o desejo de ser mãe e ter muitos filhos. Ela conhecia o carpinteiro José. As famílias dos dois tinha já arranjado o casamento, como se fazia naquele tempo. Tudo parecia caminhar para o previsível. Então, vem um chamado de Deus, para ser a mãe do messias. No começo, Maria fica perturbada (Lc 1,29) e pergunta pelo sentido daquilo que ouve do enviado de Deus. Tudo parecia estranho e novo. Como iria acontecer isso? E os planos com José? (Lc 1,34). Maria acolheu a surpresa de Deus. Confiou e arriscou-se. Renunciou a muitos planos. Deus chegou para ela de maneira inesperada. E depois de questionar, pensar, escutar, ela assumiu inteiramente sua nova vocação.

Você pensa que foi somente esta a surpresa? Houve muitas outras. Imagine que ao encontrar a sua parenta Isabel, aconteceu algo imprevisto. Entre as duas há tamanha sintonia, que Isabel percebe que algo diferente está acontecendo em Maria. O Espírito Santo lhe revela, no coração, que ela tem uma fé enorme, é bendita entre as mulheres, e o fruto de seu ventre será o salvador! (Lc 1,41-45). Maria novamente acolhe esta surpresa de Deus. Encanta-se com aquele momento tão especial. Longe de se orgulhar ou se considerar mais importante do que os outros, louva a Deus com humildade: “Estou muito alegre e canto ao Senhor, que fez em mim maravilhas” (Lc 1,46-49).

Que Maria nos ensine a receber, com alegria e gratidão, as surpresas de Deus. Que ela abra os nossos olhos e nosso coração para reconhecer os momentos de Graça! Amém.

(Publicado na Revista de Aparecida, setembro de 2014)

domingo, 7 de setembro de 2014

Maria e a dor dos humildes (Maria em canto 2)



Maria, tu és a beleza dum céu feito estrelas que a noite desfaz.
Teu canto espalha a certeza que a dor dos humildes terá seu final.

Transforma, ó Mãe, dos aflitos, o grito de tantos irmãos
num canto de fé, esperança, num dia de dança feliz caminhar.

Acolhe em teu seio materno crianças famintas jogadas ao chão.
Qual chuva que fecunda a terra faz que a semente do amor brote em nós.

Maria, mulher escolhida, de todos querida, amada do Pai,
recebe o clamor de teus filhos que juntos suplicam a libertação.
Lindbergh Pires

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Maria Mãe da Igreja (Maria em Canto 1)



Toda a Igreja feliz canta o teu nome Maria,
rosto materno és do Pai que em Jesus nos convida a união.

És a imagem ideal da Igreja, pro mundo és sinal redentor. 
Qual Igreja no evangelizar, desperta em cada irmão 
Cristo Jesus, amigo fiel, presente nos corações.

És o modelo perfeito do homem que quer ser na vida cristão. 
Nos faz semelhantes, ó Mãe, ao Cristo teu Filho Jesus, 
Amigo fiel, presença de paz, presente nos corações.
(Lindenberg Pires, SJ)

domingo, 24 de agosto de 2014

Turma de Mariologia no ISTA (2014-II)

Alegria do Professor consiste em ter uma turma que lê os textos, reflete e questiona, trazendo questões existenciais, pastorais e teológicas! Foto dos alunos do curso de mariologia, da graduação em teologia no ISTA (Instituto Santo Tomás de Aquino) em Belo Horizonte.

domingo, 17 de agosto de 2014

Maria da Dores

Os vizinhos, parentes e amigos a chamam carinhosamente de “Dozinha”. Mas seu nome de batismo é “Maria das Dores”. Dozinha trabalha como vendedora de produtos de beleza. Gosta de usar alguns deles. “Fico mais bonita e cheirosa, diz ela”.
Faz muitos anos, Dozinha se casou com aquele que acreditava ser o homem de sua vida. Mas não deu certo. O marido era irresponsável, infiel e dependente de bebida alcoolica. Depois de alguns anos, ele a deixou sozinha, com três crianças para criar. “E a vida foi uma luta só”, conta Dozinha. Sem desanimar, ela aprendeu a ser pai e mãe ao mesmo tempo. E o tempo passou. Dozinha viu os filhos crescerem. Ela tinha uma especial afeição por Rodrigo, o filho mais novo. Este era carinhoso para com ela. Elogiava a comida que fazia, sabia dizer “muito obrigado, mãe!”. Nos dois últimos anos Rodrigo começou a ficar meio estranho. A mãe desconfiou que ele estava consumindo droga. Conversou com o filho, mas Rodrigo lhe respondeu que “tudo estava bem”.

Numa trágica sexta-feira, Rodrigo chegou em casa tarde, vindo do serviço. Comeu rapidamente, deu-lhe um beijo e disse para Dozinha que ia sair com os amigos. Seu coração de mãe sentiu um aperto. Veio uma dor forte, intensa, como nunca tinha acontecido. Dozinha começou a rezar umas Ave-Marias. Ela tinha a intuição que algo muito ruim iria acontecer. Escutou então uns estampidos de tiros. Logo chegou a vizinha e lhe disse: “Seu filho foi baleado”. Dozinha correu, rezando e chorando. Encontrou o filho ensanguentado. Segurou-o nos braços, já sem vida.

A morte do filho provocou uma crise de fé profunda em Dozinha. Primeiro, ela se sentiu anestesiada. Não podia acreditar naquilo. Parecia um pesadelo sem fim. Depois, veio a grande sensação de perda, sem volta. E a pergunta que não calava: “Por que Deus permitiu isso? Por que me tirou o dom mais precioso?” Ela começou a clamar, a brigar com Deus,. Toda sua longa vida de cristã, com muitas certezas, parecia ter se dissolvido rapidamente.


Então, um dia se lembrou de Maria, a mãe de Jesus. Imaginou as suas dores na hora da cruz, o abandono que ela também tinha passado. E pensou: “eu acho que Maria teve a mesma crise. Perdeu o filho amado, quase perdeu a esperança de viver”. Ela me entende. Assim, Dozinha passou a rezar para que Maria lhe desse a força para “sair do túmulo”.

Lentamente, Dozinha está fazendo o caminho de acolher a perda do filho. Repensa também as outras perdas que teve na vida, como a do ex-marido. Aprendeu a saborear as conquistas e a alegrias. “A vida de Maria não acabou na sexta-feira da paixão. A minha também não vai terminar desse jeito”, diz ela. Ao olhar para Maria, Dozinha vê a mulher forte, que não cedeu diante da dor e do sofrimento. Enfrentou-os com a cabeça erguida. Maria se tornou sua companheira de caminho, a mãe que lhe dá colo, a amiga entre as amigas. “As coisas ainda não estão resolvidas, mas fiz as pazes com Deus”.

Se a gente olha a vida de Maria nos Evangelhos, compreende porque a devoção popular desenvolveu o título de “Nossa Senhora das Dores”. Não pode ser uma forma de justificar as injustiças ou de criar nas pessoas aquele sentimento de passividade ou de resignação diante da dor. Ao contrário. Maria se mostra como uma mulher forte, que enfrenta com energia as adversidades, junto com José e com Jesus. Simbolicamente, os evangelhos nos falam destas dificuldades, como a matança das crianças inocentes, a fuga para o Egito, a vida em terra estrangeira, a perda do menino no templo. E, para terminar, a dor na hora da cruz.
A partir de Jesus, nos sentimos solidários com todos os homens e mulheres que padecem. Afirmamos que Jesus é nossa esperança, o vencedor. Maria testemunha esta vitória de Cristo. E ela nos acompanha como mãe amorosa. Como faz com Dozinha e tantas outras pessoas.

Afonso Murad - Publicado na “Revista de Aparecida”, agosto de 2014.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Maria e os evangelizadores

Jairo e Ana vieram do interior de Minas para a capital, logo depois que se casaram. Ela trabalha como auxiliar de enfermagem, e ele, em escritório de contabilidade. Foram morar em bairro popular, perto de uma grande favela. Então, sentiram um apelo de Deus para evangelizar naquela região. Lá não havia comunidade, nem capela. Os poucos católicos frequentavam a paróquia no bairro vizinho. Então, começaram a visitar as famílias. Convidaram umas pessoas para rezar e refletir com a bíblia. Reuniam-se debaixo de um pé de Ipê. Quando chovia, se amontoavam em alguma casa. Com o tempo, o trabalho frutificou, apesar de muitas dificuldades. Surgiram lideranças, começou a catequese e o grupo de jovens, a comunidade construiu um salão para reunião e oração. No mês de agosto, celebraram os três anos da comunidade em volta do Ipê amarelo florido. Era o sinal da esperança que os animava.

O Papa Francisco, na Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho” propõe cinco atitudes para os evangelizadores, que a gente encontra em Jairo, Ana e nos líderes de sua comunidade (EG 24).
(1) Ir na frente: a comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (1 Jo 4, 10). Por isso, ela vai à frente, vai ao encontro, procura os afastados e chega às encruzilhadas dos caminhos para convidar os que estão à margem.
(2) Envolver-se: com obras e gestos, os evangelizadores entram na vida diária dos outros, encurtam as distâncias, abaixam-se e assumem a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Contraem assim o “cheiro de ovelha”, e estas escutam a sua voz.
(3) Acompanhar: a comunidade evangelizadora acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece e suporta as longas esperas. A evangelização exige muita paciência, e evita deter-se nas limitações.
(4) Frutificar: o missionário mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio. Encontra o modo para que a Palavra se encarne na situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de imperfeitos.
5) Festejar: os evangelizadores, cheios de alegria, sabem sempre festejar: celebram festeja cada pequena vitória, cada passo dado. E se alimentam da liturgia.

Estas cinco atitudes dos evangelizadores já se encontram em Maria, a mãe de Jesus.
- Ela sai na frente, indo ao encontro de Isabel. Em Caná, toma a iniciativa, quando percebe que falta o principal da festa.
- Maria se envolve inteiramente na missão de educar Jesus. Quando este se torna adulto e parte em missão, ela acompanha discretamente seu filho. Diante da cruz, Maria assume a missão de ser mãe do discípulo amado e de toda a comunidade dos seguidores de Jesus. E, assim a vemos no Cenáculo e em Pentecostes.
- O resultado não podia ser outro. Porque Maria tem fé, está presente, atua decididamente, escuta a Palavra e a medita no coração, ela frutifica. Bendito é o fruto de seu ventre, diz Isabel! Quantas coisas boas Maria plantou e colheu durante sua existência.
- Por fim, ela é uma mulher alegre, que sabe festejar. Seu cântico de louvor começa com uma explosão de alegria: “Minha alma engrandece o Senhor. E se alegra meu espírito em Deus, meu Salvador”.

Que Maria nos inspire para evangelizar com generosidade, ousadia, persistência e alegria. Que o Senhor Jesus desperte nosso coração, mobilize nossos pés e nos leve por caminhos novos, a serviço da humanidade. Maria, nossa mãe e companheira, vai com a gente.
(Afonso Murad - Mariologia popular - Publicado na Revista de Aparecida)

sábado, 14 de junho de 2014

Viva São Pedro, Viva Santa Maria!

Neste mês, as famílias e as comunidades se encontram em torno das festas juninas. Em várias cidades organizam-se “barraquinhas” com canjica ou mungunzá, pé-de-moleque, quentão, cocada e quentão. As crianças e os jovens dançam quadrilha, com vestes coloridas e engraçadas. Em algumas regiões ainda se oferecem quentão de vinho, pinhão cozido,  milho verde e pamonha. Isso sem falar das devoções, dos cantos e da prática de “levantar o mastro”. Que festa boa! No mês de junho lembramos-nos de Santo Antônio (dia 13), São João (dia 24) e São Pedro (dia 30). Vamos falar hoje sobre um deles: São Pedro. Você já pensou que ele e Maria, a mãe de Jesus, tem características semelhantes, e outras diferentes?

Pedro era pescador e se chamava Simão. Vivia em torno do Lago de Genesaré, que era tão grande, a ponto de ser chamado de “Mar da Galiléia”. Logo que começou sua missão, Jesus o chamou, junto com outros três companheiros de jornada (Mc 1,16-20). E eles, abandonando tudo, o seguiram. Tornaram-se “discípulos”, aprendizes do mestre Jesus, na escola da vida. Pedro tinha uma personalidade forte. Homem decidido, falava as coisas com clareza e sinceridade. Mas era lento para compreender tudo o que Jesus lhe ensinava (Lc 9,45). Certa vez, Jesus perguntou quem ele era, para além do que os outros diziam. Pedro respondeu com firmeza: “Você é o Cristo” (Mc 8,27-29)!. E Jesus o parabenizou, por ter dito isso, inspirado por Deus (Mt 16,17). O mestre logo alertou que, se as coisas continuassem como estavam, ele deveria sofrer e até ser assassinado pelas autoridades judaicas. Então, Pedro “escorregou” na fé, e não aceitou isso de forma nenhuma. Como podia o ungido de Deus passar por tamanha provação? Em resposta Jesus o censurou, mostrando que tais pensamentos não eram de Deus (Mc 8,33).
Este homem tão corajoso teve também seu momento de extrema fraqueza. Foi justamente na hora que Jesus mais precisava dele. Com medo de ser condenado, Pedro negou a Jesus três vezes. Depois se arrependeu, e desatou a chorar (Mc 14,66-72). E Pedro aprendeu com o erro. Depois da ressurreição de Jesus, ele e os outros discípulos enfrentaram as autoridades judaicas, sabendo do risco que corriam. Quando lhes proibiram de falar ou ensinar em nome de Jesus, Pedro e João responderam: “Não podemos calar a respeito daquilo que vimos e ouvimos” (At 4,21). Juntamente com Paulo, ele se tornou a principal liderança na origem da Igreja.

O caminho traçado por Maria se cruza com o de Pedro. Como ele, Maria recebeu um chamado divino e respondeu logo, com prontidão (Lc 1,28.38). Embora vivesse tão pertinho de Jesus, ela não compreendia logo tudo o que Jesus falava e fazia, como aconteceu no desencontro no Templo (Lc 2,50). Por isso mesmo, Maria conservava os fatos no coração e meditava sobre o seu sentido (Lc 2,51). Por um bom tempo, Maria foi a educadora de Jesus, junto com São José. Quando o  filho se torna adulto e começa a anunciar o Reino de Deus, Maria se faz discípula, aprendiz. Faz parte da comunidade dos seus seguidores, da qual faziam parte Pedro, os outros discípulos e algumas mulheres (At 1,14).
Mas, onde está a grande diferença em relação a Pedro? Na hora mais difícil da Cruz, Maria não fugiu. Permaneceu de pé, com o discípulo amado e outras mulheres (Jo 19,25). Perseverou na fé. Enquanto Pedro era o líder da comunidade, Maria era a mãe (Jo 19,26) e guia, que recordava aos discípulos: “Façam tudo o que ele lhes disser” (Jo 2,5)
Ambos são exemplos de vida para nós.  Pedro aprendeu com os acertos e erros e deu a volta por cima. Assim, animou e dirigiu a comunidade cristã. Maria não vacilou. Renovou constantemente o seu “sim” no correr da vida e como nossa mãe, acolhe-nos ternamente na Família de Jesus.

(Material de uso popular - Publicado na Revista de Aparecida, junho de 2014)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Maria e a ressurreição: da dor à alegria pascal

Lena tem um filho de 11 anos, chamado Zezinho. Faz dois anos, os médicos descobriram que o menino estava com câncer. Logo que diagnosticado, começaram o tratamento com quimioterapia e outros recursos. A criança emagreceu muito, perdeu os cabelos, ficou pálida. Parecia que ia morrer. Lena sentiu uma dor imensa, vendo o filho sofrer. Fez tudo o que podia. Rezava muito, preparava a alimentação adequada. Acompanhava-o ao hospital, quando podia.  Estava ao seu lado dando carinho e força. Felizmente, depois de muito sofrimento, Zezinho está curado. No dia do seu aniversário, Lena fez um bolo de chocolate e convidou os parentes, os vizinhos e os colegas de Zezinho. Não tinham dinheiro para fazer festa. Mas aquele simples bolo caseiro tinha o sabor de vitória da vida sobre a morte. A alegria deles foi imensa! Riam, gargalhavam, se abraçavam, cantavam e agradeciam a Deus. É assim! Quem já passou por situações extremas de dor e sofrimento, vendo a morte de perto, prova imenso contentamento quando supera esta situação.

O sofrimento e alegria de Lena nos fazem imaginar como foram intensas a dor e o contentamento de Maria, a mãe de Jesus, diante de sua missão, paixão, morte e ressurreição. No começo, foi aquela surpresa, ao ver o seu filho pregar a Boa nova do Reino de Deus, curar os doentes, acolher os marginalizados, partilhar a mesa com os pobres e pecadores. Maria, como mãe, educadora e seguidora de seu Filho, estava lá, discretamente, acompanhando tudo e aprendendo. Meditando no coração, fazendo comunidade com os outros.

Depois, veio a terrível experiência do conflito de Jesus com as autoridades religiosas e políticas de seu tempo: os escribas e fariseus, na Galiléia; o conselho do Sinédrio e Pilatos, em Jerusalém. Jesus foi condenado à morte. Desprezado pela multidão, abandonado pelos seus próprios discípulos, experimentou intenso sofrimento e solidão. Viu a morte de perto, mas dela não escapou. Teve a dolorosa e vergonhosa morte de cruz, reservada aos bandidos e aos agitadores contra o império romano. Maria acompanhou tudo. Mas, ela não podia fazer nada. Diferentemente de Lena, estava em situação de impotência. Ela acompanhou o doloroso caminho do calvário, com outras mulheres. E ao final, estava lá firme, ao pé da cruz, com Madalena e o discípulo amado. Seu gesto silencioso dizia: “Eu estou aqui, meu filho. Apesar de todo o fracasso, eu acredito em você e na causa”. Como Jesus viveu o momento mais radical da fé: crer e esperar contra toda a esperança! Na noite escura da sexta-feira da paixão, a morte venceu!

Maria e os outros seguidores de Jesus provaram por um tempo a amargo sabor do fracasso, a angústia da morte. Tudo tinha acabado! E eis que, surpreendentemente, eles provaram que Jesus está vivo! Não é um morto que foi reavivado. Mas sim o Cristo que está glorificado junto Pai. E também perto da comunidade, dando-lhe alegria, esperança e sentido para viver. Maria, as mulheres, os discípulos, todos sentem um contentamento imenso! Como Jesus já havia dito, ao pressentir a sua morte: “Vocês vão gemer e se lamentar (..), ficarão angustiados. Mas esta angústia se transformará em alegria. Quando uma mulher dá a luz, fica tão alegre que até esquece das dores de parto” (Jo 16,20-21). E assim aconteceu. Quando eles provaram Jesus ressuscitado, foram tomados de um contentamento que ninguém conseguiu tirar deles (cf. Jo 16,22).

Maria é nossa companheira na dor e na alegria, nas situações de morte e de ressurreição, no fracasso e na vitória. Na páscoa, rezemos com Maria esta nova versão da Oração da Alegria Pascal:
Maria dos Céus, alegrai-vos, aleluia.
Pois o Senhor, que concebeste em teu corpo, aleluia.
Venceu a morte e está entre nós, aleluia.
Alegrai-vos com todos os seguidores de Jesus, aleluia.
Pois ele ressuscitou verdadeiramente, aleluia.

(Publicado na Revista de Aparecida, abril de 2014)

terça-feira, 15 de abril de 2014

Mulher, eis ai o teu Filho! Eis ai a tua Mãe! (Jo 19,26)

Por causa desse Homem, o mais totalmente humano,
Tu és bendita entre todas as mulheres!
Mãe de todas as mães, doce Mãe nossa,
Por causa desse Filho, irmão de todos!
Construamos, pois, a casa, ó Mãe!
Construamos a família de todas as famílias,
de todas as nações!
Por conta dessa Carne, irmã de toda carne,
Destroçada na cruz, Hóstia do mundo.

Cansados ou perdidos,
Nós precisamos, ó Mãe, do teu aconchego,
Sombra clara de Deus em toda cruz humana,
Canção de ninar em todo sonho humano.

Queremos ser discípulos amados,
Ó Mestra do Evangelho!
Queremos ser herdeiros de Jesus,
Ó Mãe, vida da Vida!
Nessa troca de filhos,
Tu sabes bem, Maria,
Que nos ganhas a todos e não perdes o Filho
Já de retorno ao Pai,
Para esperar-nos com a casa pronta.

Poema de Dom Pedro Casaldáliga

segunda-feira, 24 de março de 2014

Anunciação na visão de pintores clássicos

Para você ver, meditar, contemplar e partilhar em comunidade as diferentes atitudes de Maria na Anunciação, retratadas por pinturas clássicas.


quarta-feira, 19 de março de 2014

Conversa com São José

São José, meu amigo.
Você  recebeu um grande presente de Deus:
conviver com sua amada Maria e educar o filho adotivo Jesus.
Quem não gostaria de fazer parte de uma família assim?
Quantas vezes vocês riram juntos, contaram casos, rezaram Salmos, partilharam o pão...
José, companheiro efetivo de Maria nas tristezas e alegrias, 
surpresas e desafios da existência.
Jesus aprendeu a ser homem e a ser filho com você.
Quando adulto, com liberdade e alteridade, Jesus pôde chamar a Deus de “Pai”.
Pode parecer pouco, mas é o essencial.
Aliás, você é o ícone do essencial. Do simples, cotidiano, sem alarde.
Consciente de seu lugar e de sua identidade,
acolhe e reverencia com humildade o Mistério.
Nós temos muito o que aprender com você!
(Afonso Murad)

sexta-feira, 14 de março de 2014

Maria na Campanha da Fraternidade

Certa vez, fui dar uma palestra numa paróquia, no início da Campanha da Fraternidade. O Doutor Alberto, senhor rico e bem vestido, advogado famoso na cidade, levantou-se e com voz arrogante falou: “Eu não gosto de Campanha da Fraternidade. Em vez de acentuar o jejum e a penitência, a Igreja fica falando de problemas sociais. Eu quero é viver a quaresma, como antigamente”.
Eu entendo o que ele disse. Alguns assuntos das Campanhas da Fraternidade são difíceis de serem traduzidas em atitudes de conversão concretas e visíveis, no cotidiano das pessoas. Os grandes temas sociais por vezes parecem tão complexos e difíceis de resolver, que a pregação da Campanha da Fraternidade pode se reduzir a um tema geral, que não atinge a vida de cada um.

O engano consiste em separar a penitência e a conversão pessoal da mudança social. Na pregação dos profetas, estas duas realidades sempre vão juntas. Na primeira sexta-feira da quaresma, lê-se na liturgia o texto de Isaías 58. O profeta começa recorda a reclamação daqueles que dizem invocar a Deus e não serem atendidos. "Por que jejuamos, e tu não viste? Por que nos humilhamos totalmente, e nem tomaste conhecimento?" Deus responde: “Acontece que, mesmo quando estão jejuando, vocês só cuidam dos próprios interesses e continuam explorando quem trabalha para vocês. O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente” (Is 58,3.6-7).
A originalidade da Campanha da Fraternidade consiste justamente em acreditar que a conversão individual se faz ao mesmo tempo com mudanças culturais, sociais e políticas. Esta convicção já está presente na pregação e na prática de Jesus. No sermão da planície, em Lucas 6,20-28, o Mestre anuncia as “Bem Aventuranças”: felizes são os pobres, os famintos, os que choram, os perseguidos por causa da justiça, pois o Reino de Deus está chegando especialmente para eles. E dirige palavras duras para os gananciosos e injustos. Quando Jesus come com os pecadores e pobres, acolhe cada um deles, mas também anuncia com seu gesto que se inicia uma sociedade que supera a exclusão social e religiosa.

O cântico de Maria, a mãe de Jesus, tradicionalmente chamado de “Magnificat” (Lc 1,46-55), manifesta o mesmo espírito de conversão e mudança das Bem-Aventuranças. Maria começa proclamando a grandeza de Deus que fez nela grandes maravilhas. Mas não se detém somente na sua experiência pessoal. Ela proclama que Deus vai operar grandes mudanças na sociedade, como saciar de bens os famintos e derrubar os poderosos de seus tronos. Maria compreende que a conversão individual e as mudanças estruturais fariam parte do mesmo projeto salvador e libertador de Jesus.
Peçamos a Maria que nesta quaresma ela nos faça melhores, mais bondosos(as), desprendidos(as), livres para servir a Deus, com um coração renovado. E, ao mesmo tempo, que ela nos dê consciência crítica para nos inteirarmos de situações desumanizadoras que clamam por transformação. E a lucidez para empreender iniciativas comunitárias e sociais contra o tráfico de seres humanos, nas suas diversas formas. Assim, a quaresma nos preparará para celebrar, de maneira sempre nova, a vida, morte e ressurreição de Jesus. E neste caminho pascal, Maria vai conosco, abre nossa mente e nosso coração, aponta para Jesus e o seu Reino. Amém!
Afonso Murad
Publicado na Revista de Aparecida – Março 2014.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

René Laurentin

Uma homenagem especial ao mariólogo francês René Laurentin, figura essencial de renovação da teologia marial nos últimos 50 anos.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Apresentação de Jesus no Templo

No dia 2 de fevereiro se celebra, em vários lugares do Brasil, a Apresentação do menino Jesus no Templo. Em algumas localidades, transformou-se em uma festa mariana, chamada “Nossa Senhora das candeias”. Parece que o nome deriva de prática piedosa de oferecer velas (candeias) aos santos. O fato é narrado em Lucas 2,11-13. Tratava-se de uma obrigação da religião judaica na época. Por volta de 40 dias depois do nascimento do filho mais velho (primogênito), a mãe e o pai iam ao templo de Jerusalém oferecer o filho a Deus. E levavam também a oferta para o sacrifício religioso, que normalmente era um cordeiro novo. Mas, como Maria e José eram pobres, ofereceram somente dois pombinhos.
No evangelho de Lucas, a importância da cena está no fato de que, ao ir ao Templo, a família de Nazaré encontra a viúva Ana e o velho Simeão. Ambos representam o antigo povo de Israel, que acolhe com alegria e esperança o messias. Simeão profetiza que Jesus será causa de contradição, revelará o que está escondido no coração das pessoas e a própria Maria sofrerá na carne um grande conflito, devido às exigências de Jesus.
No correr dos séculos, quando os cristãos leram novamente este texto de Lucas, descobriram algo mais. O gesto de José e Maria não era somente para cumprir um preceito legal. Quando Maria leva Jesus ao templo, ela oferta a si própria a Deus. Carregando o bebê no colo, Maria se apresenta diante do Senhor com grande generosidade. Ela renova o compromisso que tinha feito com Deus, no momento da anunciação. Pois sabemos, por experiência, que as opções mais profundas na vida, mesmo se feitas uma vez para sempre, precisam ser renovadas e reafirmadas. Era como se Maria dissesse para Deus: Eu aceitei Teu chamado, e Teu filho se faz carne na minha carne. Obrigada! Agora, eu e José assumimos o compromisso de amá-lo e educá-lo. De Ti recebemos a graça desta criança. A ti oferecemos esta criança, como uma dádiva”.
Faz muitos anos eu aprendi uma música sobre a Apresentação, de L. Palú e R. Pelaquin. Ela traduziu de maneira orante e poética o sentido do gesto de Maria e José. Diz assim:
Nossa Senhora vai, por entre o povo/ À luz do sol, à luz das profecias.
Leva nas mãos o seu menino lindo/ No coração, certezas e agonias (alegrias).
E cada vez que eu abro as mãos, feliz/ Para ofertar com gosto o coração.
Eu me enriqueço, o mundo se enriquece/ Renovo os gestos da apresentação.
Leva seu filho ao Templo/ E o sacerdote ofereceu Jesus ao Pai da Luz
Maria ergueu suas mãos em prece/ que nunca mais ficaram sem Jesus.

A grande lição da festa da Apresentação, que serve para cada um de nós, é esta: quando a gente oferece a Deus nossos dons, trabalhos, conquistas e esperanças, recriamos o gesto da apresentação. Enriquecemos a nós mesmos, à sociedade e ao mundo. As mãos de Maria, que simbolizam sua disposição livre de se engajar na causa de Deus, sempre estão com Jesus. Ela não o retém. Entrega-o a Deus e a nós.
Que Maria educadora nos ensine a surpreendente lógica do evangelho: quando dividimos o que somos e temos, Deus multiplica os frutos do nosso trabalho.

Ir. Afonso Murad
(Este texto foi resumido e atualizado para a publicação no ano mariano)