domingo, 18 de agosto de 2013

O que é mariologia?

Certa vez, um estudante de teologia entrou numa grande livraria católica em busca de bibliografia atualizada sobre Maria. Perguntou ao atendente: “Onde estão os livros de mariologia?”. O funcionário da loja ficou um pouco assustado com a pergunta. Imediatamente se refez da surpresa, e disse: “Ah, livros sobre Nossa Senhora... Temos vários!”. E apresentou uma estante repleta de caderninhos, livretos e livros nos quais estavam expostos novenas, ladainhas, terço em família e tantas outras devoções. O cliente insistiu: “Mas eu quero livros de mariologia!”. “Eles estão aí e lhe garanto que são muito bons! Todo dia tem gente que vem comprar!”.

Este simples fato elucida algo comum nos meios católicos. Confunde-se facilmente o estudo sobre Maria, esta disciplina da teologia denominada mariologia ou marialogia, com a devoção mariana. Ambas são legítimas, mas comportam formas diferentes de se aproximar da mãe de Jesus. A devoção compreende a relação de entrega, confiança, súplica, discernimento, gratidão e louvor a Deus e aos santos. Está no âmbito da religiosidade, das práticas cultuais. Expressa a dimensão mística e culturalmente situada da crença. Já a mariologia exercita outra dimensão da fé: o conhecimento. Pois quem ama, quer conhecer o outro(a) para ama-lo(a) melhor e construir uma relação lúcida e madura. A piedade mariana sem teologia corre o risco de perder a lucidez, mover-se sem critérios e limites e degenerar-se em crendice. Já a teologia sem mística e piedade se degenera num discurso racional que se distancia do fascínio divino. Mostra-se desrespeitosa e pastoralmente inconsequente.

A reflexão teológica sobre Maria, que denominamos mariologia ou marialogia, é simultaneamente sistemática e crítica, pois organiza as informações, apresenta e justifica a compreensão católica sobre a mãe de Jesus, ao mesmo tempo em que corrige os eventuais desvios, aponta para as limitações históricas e propõe novas interpretações, que sejam fiéis à Bíblia, à Tradição viva de Igreja e à atualidade. A marialogia conjuga razão e emoção, aceitação amorosa e busca. Reverencia a mãe de Jesus, reconhecendo seu lugar especial. Mas também ousa pensar, questionar, refletir, ponderar e propor alternativas visando uma fé madura.

Do ponto de vista do contéudo, a marialogia pode se dividida ao menos em três segmentos. O primeiro aborda Maria na Bíblia. Mostra quem é Maria de Nazaré, enquanto figura histórica e simbólica da comunidade cristã das origens e reflete sobre seu significado para os dias de hoje. O segundo segmento trata do culto a Maria na Igreja, compreendendo a liturgia e a devoção. O terceiro estuda os quatro dogmas marianos: maternidade divina, virgindade, imaculada e assunção e os explica em linguagem compreensível. Resumidamente, a mariologia estuda sobre a pessoa de Maria com o tríplice olhar da bíblia, do culto e do dogma. Procura assim responder à pergunta: Qual é o lugar e a importância de Maria no projeto salvífico de Deus, iniciado na criação; mediado na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo e continuado pela ação do Espírito Santo na história?

Há ainda outras abordagens sobre Maria. Pode-se fazer a leitura histórico-eclesial, que contempla como a comunidade cristã compreendeu sua figura no correr dos tempos. Com a ajuda das ciências da religião, faz-se uma análise das diferentes visões sobre a mãe de Jesus em diversos cenários religiosos e sócio-culturais, tanto no sincretismo religioso tradicional quanto nas formas fragmentárias da religiosidade pós-moderna. É possível também estudar a espiritualidade mariana, apresentando Maria como modelo de vida para os cristãos e a Igreja. Ou ainda perceber como Maria é vista em diferentes correntes teológicas cristãs atuais, como a teologia das religiões, a teologia da libertação, a teologia de gênero, a teologia indígena e negra etc.
Tal diversidade de temas e perspectivas sinaliza que a mariologia, como reflexão acerca do papel de Maria na História da Salvação, está viva e tem um belo caminho a percorrer.

Fonte: Afonso Murad, in: UMBRASIL (org.), Maria no coração da Igreja. Múltiplos olhares sobre a Mariologia. Paulinas, 2011, p.7-9

sábado, 3 de agosto de 2013

A pressa de Maria

Assim que recebeu o anúncio de que seria mãe de Jesus, e que a sua prima Isabel estava grávida, Maria partiu logo, sem esperar. Não disse: ‘Mas, agora eu estou grávida, e devo cuidar da minha saúde. A minha prima terá amigas que talvez a ajudem’. Ela sentiu algo e ‘partiu com pressa’. É bonito pensar isso de Maria, da nossa Mãe que sai apressadamente, porque sente algo dentro de si: ajudar. Vai para colaborar, e não para se gloriar e dizer à prima: ´Escuta, agora sou eu que mando, porque sou a Mãe de Deus! Não, não agiu desse modo. Partiu para ajudar!

Maria é sempre assim. É a nossa Mãe, que vem sempre depressa quando nós precisamos dela. Seria bom acrescentar às Ladainhas de Nossa Senhora uma que reze assim: ´Senhora que vai depressa, ora por nós!`. Isso é belo! Porque Ela vai sempre à pressa, Ela não se esquece dos seus filhos. E quando os seus filhos se encontram em dificuldade, quando têm alguma necessidade e a invocam, ela vem depressa. E isso dá-nos uma segurança, a certeza de ter a Mãe ao lado, sempre ao nosso lado. Vamos, caminhamos melhor na vida, quando temos a mãe próxima de nós.
Pensemos nesta graça que Ela nos concede: de estar próxima de nós, mas sem nos fazer esperar. Sempre! Ela existe – tenhamos confiança nisso – para nos ajudar. Maria caminha sempre apressadamente por nós” (Papa Francisco, comentário num bairro de periferia no Norte de Roma, maio 2013).