quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
O rosário de Maria (2): a contemplação
Trechos da Carta
Apostólica de João Paulo II
9. «Transfigurou-Se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o sol » (Mt 17, 2). A cena evangélica da transfiguração de Cristo, na qual os três apóstolos Pedro, Tiago e João aparecem como que extasiados pela beleza do Redentor, pode ser tomada como ícone da contemplação cristã. Fixar os olhos no rosto de Cristo, reconhecer o seu mistério no caminho ordinário e doloroso da sua humanidade, até perceber o brilho divino definitivamente manifestado no Ressuscitado glorificado à direita do Pai, é a tarefa de cada discípulo de Cristo; é por conseguinte também a nossa tarefa. Contemplando este rosto, dispomo-nos a acolher o mistério da vida trinitária, para experimentar sempre de novo o amor do Pai e gozar da alegria do Espírito Santo. Realiza-se assim também para nós a palavra de S. Paulo: « Refletindo a glória do Senhor, como um espelho, somos transformados de glória em glória, nessa mesma imagem, sempre mais resplandecente, pela ação do Espírito do Senhor » (2Cor 3, 18).
9. «Transfigurou-Se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o sol » (Mt 17, 2). A cena evangélica da transfiguração de Cristo, na qual os três apóstolos Pedro, Tiago e João aparecem como que extasiados pela beleza do Redentor, pode ser tomada como ícone da contemplação cristã. Fixar os olhos no rosto de Cristo, reconhecer o seu mistério no caminho ordinário e doloroso da sua humanidade, até perceber o brilho divino definitivamente manifestado no Ressuscitado glorificado à direita do Pai, é a tarefa de cada discípulo de Cristo; é por conseguinte também a nossa tarefa. Contemplando este rosto, dispomo-nos a acolher o mistério da vida trinitária, para experimentar sempre de novo o amor do Pai e gozar da alegria do Espírito Santo. Realiza-se assim também para nós a palavra de S. Paulo: « Refletindo a glória do Senhor, como um espelho, somos transformados de glória em glória, nessa mesma imagem, sempre mais resplandecente, pela ação do Espírito do Senhor » (2Cor 3, 18).
Maria, modelo de
contemplação
10. A contemplação de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável. O rosto do Filho pertence-lhe sob um título especial. Foi no seu ventre que Se plasmou, recebendo d'Ela também uma semelhança humana que evoca uma intimidade espiritual certamente ainda maior. À contemplação do rosto de Cristo, ninguém se dedicou com a mesma assiduidade de Maria. Os olhos do seu coração concentram-se de algum modo sobre Ele já na Anunciação, quando O concebe por obra do Espírito Santo; nos meses seguintes, começa a sentir sua presença e a pressagiar os contornos. Quando finalmente o dá à luz em Belém, também os seus olhos de carne podem fixar-se com ternura no rosto do Filho, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura (cf. Lc 2, 7).
Desde então o seu olhar,
cheio sempre de reverente estupor, não se separará mais d'Ele. Algumas vezes
será um olhar interrogativo, como no episódio da perda no templo: «
Filho, porque nos fizeste isto? » (Lc 2, 48); em todo o caso será um
olhar penetrante, capaz de ler no íntimo de Jesus, a ponto de perceber os
seus sentimentos escondidos e adivinhar suas decisões, como em Caná (cf. Jo
2, 5); outras vezes, será um olhar doloroso, sobretudo aos pés da cruz,
onde haverá ainda, de certa forma, o olhar da parturiente, pois Maria não se
limitará a compartilhar a paixão e a morte do Unigénito, mas acolherá o novo
filho a Ela entregue na pessoa do discípulo predileto (cf. Jo 19,
26-27); na manhã da Páscoa, será um olhar radioso pela alegria da
ressurreição e, enfim, um olhar ardoroso pela efusão do Espírito no dia
de Pentecostes (cf. Act 1,14).10. A contemplação de Cristo tem em Maria o seu modelo insuperável. O rosto do Filho pertence-lhe sob um título especial. Foi no seu ventre que Se plasmou, recebendo d'Ela também uma semelhança humana que evoca uma intimidade espiritual certamente ainda maior. À contemplação do rosto de Cristo, ninguém se dedicou com a mesma assiduidade de Maria. Os olhos do seu coração concentram-se de algum modo sobre Ele já na Anunciação, quando O concebe por obra do Espírito Santo; nos meses seguintes, começa a sentir sua presença e a pressagiar os contornos. Quando finalmente o dá à luz em Belém, também os seus olhos de carne podem fixar-se com ternura no rosto do Filho, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura (cf. Lc 2, 7).
As recordações de Maria
11. Maria vive com os olhos fixos em Cristo e guarda cada palavra sua: « Conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração » (Lc 2, 19; cf. 2, 51). As recordações de Jesus, estampadas na sua alma, acompanharam-na em cada circunstância, levando-a a percorrer novamente com o pensamento os vários momentos da sua vida junto com o Filho. Foram estas recordações que constituíram, de certo modo, o “rosário” que Ela mesma recitou constantemente nos dias da sua vida terrena.
E mesmo agora, entre os
cânticos de alegria da Jerusalém celestial, os motivos da sua gratidão e do seu
louvor permanecem imutáveis. São eles que inspiram o seu carinho materno pela
Igreja peregrina, na qual Ela continua a desenvolver a composição da sua
“narração” de evangelizadora. Maria propõe continuamente aos crentes os
“mistérios” do seu Filho, desejando que sejam contemplados, para que possam
irradiar toda a sua força salvífica. Quando recita o Rosário, a comunidade
cristã sintoniza-se com a lembrança e com o olhar de Maria.
11. Maria vive com os olhos fixos em Cristo e guarda cada palavra sua: « Conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração » (Lc 2, 19; cf. 2, 51). As recordações de Jesus, estampadas na sua alma, acompanharam-na em cada circunstância, levando-a a percorrer novamente com o pensamento os vários momentos da sua vida junto com o Filho. Foram estas recordações que constituíram, de certo modo, o “rosário” que Ela mesma recitou constantemente nos dias da sua vida terrena.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
O Rosário de Maria (1)
Trechos da Carta
Apostólica de João Paulo II
1. O Rosário da Virgem Maria (Rosarium Virginis Mariae),
que ao sopro do Espírito de Deus se foi formando gradualmente no segundo
Milénio, é oração amada por numerosos Santos e estimulada pelo Magistério. Na
sua simplicidade e profundidade, permanece, mesmo no terceiro Milénio recém
iniciado, uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de
santidade. Ela enquadra-se perfeitamente no caminho espiritual de um
cristianismo que, passados dois mil anos, nada perdeu do seu frescor original,
e sente-se impulsionado pelo Espírito de Deus a « fazer-se ao largo » (duc
in altum!) para reafirmar, melhor « gritar » Cristo ao mundo como Senhor e
Salvador, como « caminho, verdade e vida » (Jo 14, 6), como « o fim da
história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da
civilização ».
O Rosário, de fato, ainda que caracterizado pela sua
fisionomia mariana, no seu âmago é oração cristológica. Na sobriedade dos seus
elementos, concentra a profundidade de toda a mensagem evangélica,da
qual é quase um compêndio. Nele ecoa a oração de Maria, o seu perene Magnificat
pela obra da Encarnação redentora iniciada no seu ventre virginal. Com ele, o
povo cristão frequenta a escola de Maria, para deixar-se introduzir na
contemplação da beleza do rosto de Cristo e na experiência da profundidade do
seu amor. Mediante o Rosário, o crente alcança a graça em abundância, como se a
recebesse das mesmas mãos da Mãe do Redentor.
5. O motivo mais importante para propor com insistência a prática
do Rosário reside no fato de este constituir um meio validíssimo para favorecer
entre os crentes aquele compromisso de contemplação do mistério cristão que
propus, na Carta apostólica Novo
millennio ineunte, como verdadeira e própria pedagogia da
santidade: «Há necessidade dum cristianismo que se destaque principalmente pela
arte da oração». Enquanto que na cultura contemporânea, mesmo entre
tantas contradições, emerge uma nova exigência de espiritualidade, solicitada
inclusive pela influência de outras religiões, é extremamente urgente que as
nossas comunidades cristãs se tornem « autênticas escolas de oração ».
O Rosário situa-se na melhor e mais garantida tradição da
contemplação cristã. Desenvolvido no Ocidente, é oração tipicamente meditativa
e corresponde, de certo modo, à « oração do coração » ou « oração de Jesus »
germinada no húmus do Oriente cristão.
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
O rosário, bela oração mariana
Não se sabe quando os cristãos começaram a rezar a Ave-Maria
como oração vocal. Na Idade Média, uns monges analfabetos, que não podiam ler
os Salmos, recitavam de memória algumas frases. Lembrando os 150 salmos, eles
rezavam, três vezes ao dia, blocos de 50 Ave-Marias, compostas somente pela
saudação do anjo (Lc 1,28) e as palavras de Isabel (Lc 1,42). Outros faziam a
mesma coisa com o Pai-Nosso. A segunda parte da oração (Santa maria, mãe de
Deus, rogai por nós...) foi incorporada ao rosário provavelmente a partir do
ano 1480.
O monge Henrique
Kalkar, por volta do ano 1300, fez a divisão das Ave-Marias em 15 dezenas, com
o Pai-Nosso iniciando cada uma. Mais tarde, outro monge propôs a meditação dos
mistérios. Cem anos depois, o dominicano Alano de la Rocha propôs a meditação
dos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos. Com eles se contemplam,
respectivamente, a encarnação do Filho de Deus, sua paixão e morte, a
ressurreição e glorificação de Jesus e de Maria. E assim o rosário se espalhou
por toda parte. Muitas confrarias e Institutos religiosos promoveram sua
devoção. Como é uma oração fácil, o povo aprendeu logo. O Papa João Paulo II
acrescentou os mistérios da luz, que
contemplam a missão de Jesus. Assim, o rosário passou de 150 para 200 Ave
Marias, divididas agora em quatro sequências de “mistérios”: gozosos,
luminosos, dolorosos e gloriosos.
A devoção do rosário é conhecida no Brasil como “terço”,
pois as pessoas rezam cada vez 1/3 das 150 Ave-Marias. No correr de vários séculos,
pessoas e grupos modificaram e organizaram a oração das Ave-Marias, até chegar
ao que temos hoje. E da mesma forma como ele foi modificado com o tempo, pode
também mudar hoje.
Embora tenha uma estrutura fixa para nos ajudar, o rosário é
uma oração vocal livre. Você pode rezá-lo sozinho ou em grupo, em qualquer hora
do dia ou da noite, de muitas formas. Faça-o como lhe guia o coração. Não se
aconselha recitá-lo de forma mecânica, repetindo às pressas as Ave-Marias. É
melhor rezá-lo de forma tranqüila, contemplando os mistérios, para experimentar
seus frutos espirituais. Sugere-se que a recitação do rosário seja enriquecida
com trechos Palavra de Deus, hinos e canções. Portanto, o rosário é uma devoção
saudável, que ajuda os fiéis a entrar em sintonia com Deus, venerando a mãe de
Jesus e contemplando os mistérios da vida de Jesus.
Veja mais em: Afonso Murad, Maria toda de Deus e tão humana. Compêndio de mariologia. Paulinas - Santuário, 2012, cap.11.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Aparição marianas recentes
Dom Rafael Maria da Silva, beneditino
Os bispos africanos de Ruanda se viram no dever de estudarem com todos os elementos necessários para poder dar uma resposta sábia e coerente ao povo local e mundial sobre os fenômenos ali acontecidos. Estas aparições foram aprovadas pelo episcopado ruandês em 2001.
Com Decreto de 8 de Dezembro de 2010 o bispo de Green Bay, Mons. David Ricken aprovou três aparições da Virgem Maria ocorridas em 1859 a Adele Brise, uma jovem imigrante belga, solicitando-a ao trabalho na conversão dos pecadores.
Para a América Latina no século XX duas aparições marianas foram aprovadas pelos bispos locais: Finca Betânia (Venezuela) aprovada em 28 de Novembro de 1987 e a San Nicolas (Argentina) a aprovação parcial em 28 de Outubro de 1988 com a construção do santuário, publicação das mensagens e liberdade do culto.
(Fragmento de um texto do autor).
Recentemente a Igreja se viu no dever de tomar uma posição sobre o caso das
supostas mariofanias em Medjugorje que desde 1981 vem ocorrendo a seis videntes
na Bósnia-Herzegovina. Foi formada uma Comissão de teólogos para aprofundarem
tal fenômeno a 18 de Dezembro de 2009. A necessidade de formar uma Comissão
Teológica entra nos parâmetros de documentos emanados pela Santa Sé a este
respeito. Muitos são os frutos decorrentes de Medjugorie, mas também muitas
polêmicas surgiram, levando a séria confusão e, porque não dizer, escândalos
envolvendo eclesiásticos locais e internacional, assim como surgiram posições
contra e a favor da suposta aparição.
Três recentes mariofanias foram aprovadas pela Igreja. Isto quer dizer que
se pode encontrar nestes fenômenos a ação do Espírito de Deus a favor de sua
Igreja, porque condizentes com a Palavra de Deus, a Tradição da Igreja e a voz
do Magistério. As aparições reconhecidas são: Laus nos Alpes francês, Kibeho em
Ruanda na África e em Champion nos USA.
As aparições da Virgem em Laus a venerável Benedita Recurel ocorreram em
1644 e duraram cerca de 54 anos até a morte da vidente em 1718. Caso
excepcional (!) e quem sabe iluminante para os que criticam as supostas
aparições de Medjugorje que acontecem a cerca de trinta anos. Em Laus, as
aparições foram uma formação cristã pessoal para vidente e comunitária para os
fiéis. A vidente demonstrou ao longo dos cinquenta anos de experiencia com a
Virgem Mãe de Deus um crescimento na fé, na esperança e na caridade, fruto de
uma ação contínua do Espírito Santo. Estas aparições foram estudadas por duas
vezes e na última é que foi reconhecida oficialmente pelo episcopado local em
24 de Maio de 2008.
Em Kibeho, as aparições ocorreram a seis jovens videntes africanos em 1981
e terminaram em 1996. Destes seis jovens, o episcopado ruandês achou por bem
reconhecer somente três deles por considerarem autênticos no comportamento de
fidelidade à Igreja e das mensagens. Os outros três estão ainda a ser
aprofundados. Os elementos proféticos, característica de quase todas as
mariofanias estão presentes nas aparições de Kibeho. Aqui a Virgem Maria
anuncia o caminho da conversão e da oração para evitar o genocídio que
infelizmente ocorreu em 1994 onde cerca de 3. 070.000 pessoas morreram por
causa de rivalidades tribais. Ainda, a Virgem Maria, se designando como «Mãe do
Verbo», revigora uma antiga devoção local, o «Rosário das Sete Dores de Maria»…
Se pode dizer que as aparições da Virgem em Kibeho possuem elementos de
inculturação local ao qual a diferencia das aparições europeias, isto é modo de
se expressar, seus gestos e a modalidade dos êxtases. Um detalhe curioso é a
cor com que a Virgem, Mãe do Verbo aparece em Kibeho, não é de cor negra como a
cor própria dos africanos, mas uma cor «negra» diferente, segundo os videntes,
um negro transfigurado na ressurreição do Senhor.Os bispos africanos de Ruanda se viram no dever de estudarem com todos os elementos necessários para poder dar uma resposta sábia e coerente ao povo local e mundial sobre os fenômenos ali acontecidos. Estas aparições foram aprovadas pelo episcopado ruandês em 2001.
Com Decreto de 8 de Dezembro de 2010 o bispo de Green Bay, Mons. David Ricken aprovou três aparições da Virgem Maria ocorridas em 1859 a Adele Brise, uma jovem imigrante belga, solicitando-a ao trabalho na conversão dos pecadores.
Para a América Latina no século XX duas aparições marianas foram aprovadas pelos bispos locais: Finca Betânia (Venezuela) aprovada em 28 de Novembro de 1987 e a San Nicolas (Argentina) a aprovação parcial em 28 de Outubro de 1988 com a construção do santuário, publicação das mensagens e liberdade do culto.
(Fragmento de um texto do autor).
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Maria e o ecumenismo
Veja a palestra de Marcial Maçaneiro sobre Maria no diálogo entre as Igrejas cristãs. Uma colocação com lucidez e equilíbrio!
segunda-feira, 4 de junho de 2012
sábado, 19 de maio de 2012
Novo compêndio de mariologia
Acaba de ser lançado por Ed. Paulinas e Ed. Santuário o
livro “Maria, toda de Deus e tão humana.
Compêndio de Mariologia”. Meu intento é partilhar de forma clara, simples e
sintética os principais elementos da marialogia contemporânea, nos seus três
grandes blocos: Maria na bíblia, nos dogmas e no culto cristão.
Conto-lhe brevemente a história desta obra. Na passagem do milênio, a CNBB me convidou para escrever um texto pastoral sobre a mãe de Jesus. Elaborei então o livrinho “Com Maria rumo ao novo Milênio”. Anos depois, recebi o convite de uma editora espanhola, com ênfase em catequese, para escrever uma obra de mariologia na coleção “Livros Básicos de Teologia”. Publicou-se então, na Espanha, no México e no Brasil, “Maria toda de Deus e tão humana”, que teve quatro edições no nosso país.
Continuei a lecionar Mariologia (em Belo Horizonte, São Paulo e Taubaté), fiz palestras e conferências, participei de simpósios e congressos para distintos públicos, li autores recentes, conheci mais textos patrísticos sobre Maria, participei na elaboração de um EAD (Educação à distância) sobre a Mãe de Jesus e então senti a necessidade de fazer uma nova obra, apoiando-me no que já havia produzido. Procurei responder às perguntas que captei de meus alunos, colegas teólogos(as), agentes de pastoral e líderes de comunidade. Acompanhei pela Internet os sites marianos dos últimos anos e as publicações de movimentos aparicionistas. Tudo isso me motivou a escrever o novo livro.
Há muitos elementos originais e outros que foram mantidos da obra anterior, “Maria toda de Deus e tão humana”. A primeira novidade consiste na interface das linguagens. Além do conteúdo do livro, o leitor(a) pode acompanhar novos textos, músicas e clips, além de manifestar sua opinião e deixar perguntas, neste blog. Também encontrará no Youtube uma série de pequenos vídeos intitulada “Trem da mariologia”, em linguagem pastoral, em estreita ligação com os assuntos desenvolvidos no livro.
Além disso, ao final de cada capítulo, foram acrescentados “Textos complementares” de teólogos(as), de pastoralistas e do magistério recente da Igreja, de forma a estimular a busca de novos conhecimentos. Atualizou-se a bibliografia. Criaram-se capítulos novos. Ampliaram-se outros. Veja as novidades e os elementos comuns desta obra, em relação à anterior.
Prefácio: completamente novo.
Cap 1: Refletir sobre Maria Hoje. Atualizamos várias questões teológico-pastorais. Acrescentamos as “linhas básicas da mariologia do Vaticano II” e fizemos uma reflexão original sobre “as fontes da mariologia” e “o uso do pensamento dedutivo na mariologia”.
Cap 2: Maria em Marcos e Mateus. Como em quase todos os capítulos de mariologia bíblica, mantivemos o núcleo de “Maria, toda de Deus e tão humana”. Aperfeiçoamos a linguagem. Acrescentamos elucidativos textos complementares sobre os Apócrifos Marianos, a instituição familiar no tempo de Jesus e uma interpretação original de “Quem são a minha mãe e os meus irmãos”.
Cap 3. Maria em Lucas (I). A perfeita discípula; Cap 4. Maria em Lucas (II). Louvor e profetismo. Aqui reside o núcleo da mariologia bíblica. Para facilitar a leitura e assimilação, a visão sobre Maria no evangelista Lucas foi dividido em dois capítulos. Apresentamos textos complementares para ampliar a reflexão.
Cap 5. Maria em João: Caná e Cruz; Cap 6. Maria no Apocalipse e outros escritos Bíblicos. Estes capítulos também tiveram poucas modificações. A novidade consiste nos “textos complementares” de vários mariólogos(as).
Cap 7. Maria, da bíblia ao dogma. Este capítulo foi bastante modificado. Suprimiram-se vários parágrafos. Fundiu-se com parte do capítulo anterior, que versava sobre Hermenêutica bíblica. Conferiu-se assim maior unidade na apresentação do tema.
Cap 8. Maria Mãe e Virgem. O texto foi atualizado e ampliado, com a ajuda de literatura recente. Acrescentamos várias informações acerca do tema da Virgindade de Maria.
Cap 9. Imaculada Conceição. Além de fornecer mais informações sobre o caminho de maturação do dogma, ampliou-se a reflexão sobre a Imaculada, à luz da Antropologia Teológica. Os textos complementares possibilitam a compreensão plural sobre o tema.
Cap 10. Assunção. Devido os significativos acréscimos de caráter bíblico, histórico e teológico-dogmático, separamos o tema da Assunção num novo capítulo. Mostrou-se com mais clareza os liames do tema com a escatologia cristã. Analisaram-se textos de apócrifos assuncionistas. Por fim, abordou-se um tema atual, que tem suscitado muitas perguntas: as tentativas de novos dogmas marianos.
Cap 11. Maria na devoção e na liturgia. Este capítulo é fundamental para compreender a legitimidade do culto a Maria, na comunhão dos Santos, mantendo a crença na única mediação de Jesus. Além de aperfeiçoar o texto existente, a nova versão acrescenta os critérios de renovação para a piedade mariana, de Paulo VI, e orientações de João Paulo II sobre a oração do rosário. Encerra-se com a reflexão sobre “Religiosidade católica e devoção mariana”.
Cap 12. As aparições de Maria. Capítulo todo original, apresenta o fenômeno em sua complexidade e fornece elementos teológico-pastorais para análise e discernimento das presumidas aparições atuais.
Oração conclusiva. A reflexão teológica acerca de Maria se encerra com a reverência ao mistério de Deus neste mulher tão especial. Concluí-se o livro com uma oração de ação de Graças a Deus, por Maria, que já estava na obra anterior.
Bibliografia geral: Atualizamos as obras de marialogia e as dividimos em grandes temas, para ajudar o estudante e encontrar o que procura nos distintos blocos da marialogia.
O livro se encontra nas livrarias Paulinas ou nas distribuidoras da Editora Santuário. Fonte: Afonso Murad, Maria toda de Deus e tão Humana. Compêndio de Mariologia, prefácio.
Conto-lhe brevemente a história desta obra. Na passagem do milênio, a CNBB me convidou para escrever um texto pastoral sobre a mãe de Jesus. Elaborei então o livrinho “Com Maria rumo ao novo Milênio”. Anos depois, recebi o convite de uma editora espanhola, com ênfase em catequese, para escrever uma obra de mariologia na coleção “Livros Básicos de Teologia”. Publicou-se então, na Espanha, no México e no Brasil, “Maria toda de Deus e tão humana”, que teve quatro edições no nosso país.
Continuei a lecionar Mariologia (em Belo Horizonte, São Paulo e Taubaté), fiz palestras e conferências, participei de simpósios e congressos para distintos públicos, li autores recentes, conheci mais textos patrísticos sobre Maria, participei na elaboração de um EAD (Educação à distância) sobre a Mãe de Jesus e então senti a necessidade de fazer uma nova obra, apoiando-me no que já havia produzido. Procurei responder às perguntas que captei de meus alunos, colegas teólogos(as), agentes de pastoral e líderes de comunidade. Acompanhei pela Internet os sites marianos dos últimos anos e as publicações de movimentos aparicionistas. Tudo isso me motivou a escrever o novo livro.
Há muitos elementos originais e outros que foram mantidos da obra anterior, “Maria toda de Deus e tão humana”. A primeira novidade consiste na interface das linguagens. Além do conteúdo do livro, o leitor(a) pode acompanhar novos textos, músicas e clips, além de manifestar sua opinião e deixar perguntas, neste blog. Também encontrará no Youtube uma série de pequenos vídeos intitulada “Trem da mariologia”, em linguagem pastoral, em estreita ligação com os assuntos desenvolvidos no livro.
Além disso, ao final de cada capítulo, foram acrescentados “Textos complementares” de teólogos(as), de pastoralistas e do magistério recente da Igreja, de forma a estimular a busca de novos conhecimentos. Atualizou-se a bibliografia. Criaram-se capítulos novos. Ampliaram-se outros. Veja as novidades e os elementos comuns desta obra, em relação à anterior.
Prefácio: completamente novo.
Cap 1: Refletir sobre Maria Hoje. Atualizamos várias questões teológico-pastorais. Acrescentamos as “linhas básicas da mariologia do Vaticano II” e fizemos uma reflexão original sobre “as fontes da mariologia” e “o uso do pensamento dedutivo na mariologia”.
Cap 2: Maria em Marcos e Mateus. Como em quase todos os capítulos de mariologia bíblica, mantivemos o núcleo de “Maria, toda de Deus e tão humana”. Aperfeiçoamos a linguagem. Acrescentamos elucidativos textos complementares sobre os Apócrifos Marianos, a instituição familiar no tempo de Jesus e uma interpretação original de “Quem são a minha mãe e os meus irmãos”.
Cap 3. Maria em Lucas (I). A perfeita discípula; Cap 4. Maria em Lucas (II). Louvor e profetismo. Aqui reside o núcleo da mariologia bíblica. Para facilitar a leitura e assimilação, a visão sobre Maria no evangelista Lucas foi dividido em dois capítulos. Apresentamos textos complementares para ampliar a reflexão.
Cap 5. Maria em João: Caná e Cruz; Cap 6. Maria no Apocalipse e outros escritos Bíblicos. Estes capítulos também tiveram poucas modificações. A novidade consiste nos “textos complementares” de vários mariólogos(as).
Cap 7. Maria, da bíblia ao dogma. Este capítulo foi bastante modificado. Suprimiram-se vários parágrafos. Fundiu-se com parte do capítulo anterior, que versava sobre Hermenêutica bíblica. Conferiu-se assim maior unidade na apresentação do tema.
Cap 8. Maria Mãe e Virgem. O texto foi atualizado e ampliado, com a ajuda de literatura recente. Acrescentamos várias informações acerca do tema da Virgindade de Maria.
Cap 9. Imaculada Conceição. Além de fornecer mais informações sobre o caminho de maturação do dogma, ampliou-se a reflexão sobre a Imaculada, à luz da Antropologia Teológica. Os textos complementares possibilitam a compreensão plural sobre o tema.
Cap 10. Assunção. Devido os significativos acréscimos de caráter bíblico, histórico e teológico-dogmático, separamos o tema da Assunção num novo capítulo. Mostrou-se com mais clareza os liames do tema com a escatologia cristã. Analisaram-se textos de apócrifos assuncionistas. Por fim, abordou-se um tema atual, que tem suscitado muitas perguntas: as tentativas de novos dogmas marianos.
Cap 11. Maria na devoção e na liturgia. Este capítulo é fundamental para compreender a legitimidade do culto a Maria, na comunhão dos Santos, mantendo a crença na única mediação de Jesus. Além de aperfeiçoar o texto existente, a nova versão acrescenta os critérios de renovação para a piedade mariana, de Paulo VI, e orientações de João Paulo II sobre a oração do rosário. Encerra-se com a reflexão sobre “Religiosidade católica e devoção mariana”.
Cap 12. As aparições de Maria. Capítulo todo original, apresenta o fenômeno em sua complexidade e fornece elementos teológico-pastorais para análise e discernimento das presumidas aparições atuais.
Oração conclusiva. A reflexão teológica acerca de Maria se encerra com a reverência ao mistério de Deus neste mulher tão especial. Concluí-se o livro com uma oração de ação de Graças a Deus, por Maria, que já estava na obra anterior.
Bibliografia geral: Atualizamos as obras de marialogia e as dividimos em grandes temas, para ajudar o estudante e encontrar o que procura nos distintos blocos da marialogia.
O livro se encontra nas livrarias Paulinas ou nas distribuidoras da Editora Santuário. Fonte: Afonso Murad, Maria toda de Deus e tão Humana. Compêndio de Mariologia, prefácio.
sábado, 21 de abril de 2012
Novos dogmas marianos?
Em
ambientes católicos é comum encontrar pessoas e grupos que atribuem a Maria os
títulos de “corredentora” e “medianeira”. Baseiam-se no fato de existir uma
longa tradição devocional, que justificaria tais títulos. Realmente, esses
foram aplicados a Maria nos últimos dois séculos, inclusive por alguns Papas,
embora não estejam presentes de forma significativa no primeiro milênio, tanto
no oriente quanto no ocidente. Ou seja, não remontam à longa Tradição da
Igreja, mas somente a uma parte dela. Importa também levar em consideração que
certas afirmações sobre Maria não podem ser absolutizadas e retiradas de seu
contexto. Antes, devem ser compreendidas dentro do horizonte em que foram
formuladas, e reelaboradas com a perspectiva da visão mariológica do Capítulo 8
da Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II.
O
problema aflora atualmente quando movimentos marianistas se põem a defender a
criação de novos dogmas marianos, a partir da prática devocional,
desrespeitando e desvalorizando o Concílio Vaticano II, como se ele fosse algo
secundário.
Vejamos
os principais argumentos apresentados a favor de um novo dogma mariano, o da
corredenção, e os argumentos contrários. Para tal síntese, usar-se-á
principalmente o livro “María corredentora? Debate sobre um título mariológico”
de H. Munsterman (Paulus, 2009).
Segundo
seus defensores, o título de Corredentora tem se aplicado à Maria há muito
tempo, aparece com mais clareza e maior frequência no Magistério recente, de
Pio IX a João Paulo II na Encíclica “Redemptoris Mater”, embora não tenha sido
assumido pelo Vaticano II. Maria pode ser chamada com propriedade de
Corredentora em virtude do plano divino de associá-la plenamente à pessoa e à
obra redentora de seu Filho. Maria cooperou com nossa redenção: (1) Crendo nas
palavras do Anjo Gabriel e dando seu “sim” no mistério da encarnação, e (2)
aceitando todos os sofrimentos que experimentou seu filho nas dores da Cruz.
Maria é corredentora porque, abdicando de seus direitos de Mãe, imolou a seu
Filho, oferecendo-o voluntariamente pela salvação da humanidade.
Devido
à associação tão intensa com a obra salvífica de seu filho, pode-se afirmar que
Ela verdadeiramente redimiu a todos e pode ser chamada corredentora do gênero
humano. A corredenção mariana deve ser entendida como uma função subordinada,
especial e extraordinária de Maria na obra salvadora de seu Filho. Mesmo que
Cristo seja o único Mediador, nada impede que haja outros mediadores, com
mediação secundária, subordinada à de Cristo. (Fonte: http://www.escuelacima.com/corredentora.html).
A
pesquisa histórica, no entanto, mostrou que o título “corredentora” não tem
raízes históricas profundas. É praticamente desconhecido na patrística. O
renomado mariólogo René Laurentin, no clássico livro “O título de Corredentora. Estudos históricos. Roma/Paris, Ed. Marianum,
1951 (original em francês), traz informações preciosas sobre o tema. Laurentin
mostra que na idade média alguns autores aplicam o título de “redentora” a
Maria, no sentido de que ela deu à luz ao redentor. Com o desenvolver da
devoção medieval a partir do século XII, a atuação de Maria passa a ser
compreendida também no momento da cruz. Isso gera conflitos, pois redentor na
cruz somente é Jesus. Para diminuir os equívocos, cria-se o termo
“co-redendora”.
Os
dois títulos coexistiram por um bom tempo, praticamente até o século XVIII.
Laurentin sustenta que o título “corredentora” é utilizado durante todos esses
séculos numa pequena minoria de obras e raramente por grandes teólogos. Já no
início do século passado, com o rápido crescimento do marianismo, o termo
ganhou corpo e se encontra disseminado, como em Bover, Roschinni, Kolbe, E.
Stein, Escrivá, Padre Pio... No magistério, a expressão “corredentora” aparece
pela primeira vez num discurso de Pio XI, em 1930. Portanto, não se fundamenta
em fontes consistentes na história da Igreja. É algo relativamente recente, dos
últimos 100 anos.
O
discurso sobre a corredentora se serve de dois grandes argumentos teológicos
pré-conciliares, ligados à teologia da Graça: redenção objetiva e paralelismo
Maria-Eva. Usa-se a distinção entre “redenção objetiva” e “redenção subjetiva”,
proveniente da teologia de M.J. Scheeben. A redenção objetiva refere-se à obra
salvífica de Cristo, consumada na cruz. E a redenção subjetiva diz respeito à
aplicação individual dos efeitos dessa obra a cada cristão e à Igreja. Todos os
fiéis participam da redenção subjetiva, mas somente Maria atua, de “maneira
única e ativa”, na redenção objetiva, por ser a mãe do salvador e sofrer com
ele na cruz.
Este
discurso recupera, num contexto muito diferente do original, o paralelismo
entre Eva e Maria, que aparece em Justino (+165) e Ireneu de Lyon (+202).
Afirma-se que pelo Sim de Maria, no momento da Anunciação, é anulada a queda de
Eva. Neste sentido, Maria coopera na salvação. Ora, basta conhecer um pouco de
teologia bíblica, para constatar a fragilidade do argumento. Maria de Nazaré é
personagem histórico. Eva é figura simbólico-mitológica, pois não existiu como
pessoa. Tal paralelismo foi útil no século II. Hoje, se mostra anacrônico,
impreciso do ponto de vista linguístico, além de trazer consigo um ranço
patriarcal e machista, ao culpabilizar a mulher pela origem do mal no mundo.
Hendro
Munsterman, no livro citado (Maria corredentora, Paulus, 2009, p. 71-89) elenca
argumentos contra o uso do termo corredentora.
Apresentamos aqui uma síntese e reelaboração do pensamento do autor. Quais
seriam os inconvenientes do termo “corredentora”, aplicado a Maria?
-
O título fere a unicidade da redenção
realizada por Cristo. A Bíblia é clara: redentor e salvador, somente Jesus!
(1 Tm 2,5; At 4,12). Do ponto de vista puramente lexical, o termo coredemptrix
é problemático e ambíguo. Mesmo que se diga que o prefixo “co” não significa
estar no mesmo nível de Jesus, a imprecisão permanece.
-
O titulo é ambíguo. Nas nossas
línguas modernas, o prefixo “co” em grande parte das palavras significa ou
subentende uma igualdade entre duas entidades. Por exemplo: coproprietário,
coassociado... Tal imprecisão semântica deixa margem para pensar que Maria não
é salva por Cristo, pois ela ajuda a Cristo no processo de redenção. Quando um
determinado termo ou conceito necessita de muita explicação, é sinal de
inadequação. E não se trata somente da interpretação dada ao prefixo “co”. Os
termos “redenção” e “salvação” representam doutrinas precisas. Já a idéia de
corredenção não goza de consenso de interpretação.
- Ele Torna
obscuro o papel do Espírito Santo. Na realidade, quem atua como
“corredentor” é o Espírito Santo, que realiza nos corações o encontro salvífico
do cristão com o Pai e o Filho. Ao transferir tal atribuição para Maria, se
olvida esta tarefa do Espírito.
- O conteúdo de
“corredentora” reflete um sistema teológico ultrapassado. Segundo W.
Beinert, a dificuldade de refletir sobre este tema reside na teologia
(neo)escolástica, que reduziu a conceitos o que os Padres da Igreja escreveram
em linguagem imaginária e simbólica. Quando Ireneu diz que “Maria é causa de
salvação para o gênero humano”, não está fazendo uma afirmação dogmática. Mas
foi (e ainda é) interpretado assim. Por isso, é melhor recorre ao método da
História da Salvação, preconizado pelo Vaticano II, do que se enredar em
conceitos prévios, que por vezes são ambíguos e inoperantes.
-“Corredentora”
serve à mariologia desequilibradamente maximalista. No século
passado, o título situava Maria como coadjuvante de Jesus, na assim chamada
“redenção objetiva”. Com a virada do Vaticano II, a tendência inicial consistiu
em enfatizar a participação de Maria na “redenção subjetiva”, enquanto modelo
da Igreja. De uma mariologia predominantememente cristotípica (em comparação
com Cristo) passou-se para uma eclesiotípica (em relação com a Igreja). No
entanto, o neoconservadorismo supervaloriza a Igreja, no processo de redenção.
E Maria, também. O título corredentora serve a este propósito.
-
A argumentação fundamenta-se pouco na
bíblia e na patrística e privilegia testemunho de videntes e determinada
interpretação dos papas. Basta ler os escritos dos movimentos marianos que
defendem mais este dogma para perceber que a construção de sua doutrina se
baseia numa leitura prototípica do Antigo Testamento, sem levar em conta a
contribuição da teologia bíblica, faz uma leitura escolástica dos padres da
Igreja (paralelismo Eva e Maria), não levando em conta sua linguagem simbólico-alegórica,
e se serve de textos de papas da era mariana (e João Paulo II). Para completar,
usam o argumento de videntes recentes, como Ida Peerdeman, que em suas
mensagens dizem “Maria solicita a definição de um novo dogma!”
-
O título nega o acordo de católicos e
luteranos sobre a justificação. Em 1999, a Igreja católica e Federação
luterana mundial assinaram a “Declaração comum a respeito da doutrina da
justificação”. Foi um passo importantíssimo para curar feridas no seio do
cristianismo ocidental, apontar os elementos comuns e reconhecer de forma
respeitosa as diferenças entre as duas confissões cristãs sobre esta questão
teológica fundamental. No documento se afirma: “Quando os católicos dizem que a
pessoa humana coopera por seu consentimento no agir justificante de Deus, eles
consideram tal consentimento pessoal como sendo um ato da graça e não o
resultado de uma ação onde a pessoa seria capaz disso” (n.20). Ou seja,
trata-se de uma resposta ativa do ser humano à proposta divina, possibilitada pela
mesma graça. Ora, o termo “corredentora” suscita impecilhos na teologia da
Graça, pois põe na sombra o fato de que a cooperação de Maria na obra da
salvação é manifestação da graça de Deus.
- O título cria
enormes problemas ecumênicos com ortodoxos e protestantes. Para os
ortodoxos, um novo dogma mariano aumentaria o fosso de separação, pois
dificilmente seria formulado por um concílio ecumênico e obscureceria o grande
dogma mariano da Theotókos, aceito por praticamente todas as Igrejas cristãs
históricas. Para os protestantes, tal dogma atentaria contra a única mediação
de Cristo e a unicidade da sua obra redentora.
Espera-se
que os agentes de pastoral, os presbíteros, os teólogos(as), os bispos, as
Conferências Episcopais, a Cúria Romana e o Papa tomem consciência da
inconveniência de atribuir a Maria o título de “corredentora”. Tanto do ponto
de vista pastoral quanto dogmático, é mais sábio utilizar em seu lugar termos
menos ambíguos, mais sintonizados com a perspectiva da História da Salvação, no
horizonte da “comunhão dos Santos”.
Fonte: Afonso Murad, Maria toda de Deus e tão humana. Compêndio de Mariologia. Paulinas, 2012.
sábado, 31 de março de 2012
domingo, 18 de março de 2012
José, Maria e Jesus
Este poema de Zé Vicente, intitulado "Divino Recado" apresenta São José em relação ao "Sim" de Maria e à missão de Jesus. Leia e medite. E viva São José!
Mensageiro que Deus enviou / Veio trazendo divino recado
Pra menina o anjo anunciou/ Que o seu Deus estava apaixonado!
Ela disse "sim" e se entregou/ E o dia da graça enfim começou
E o amor se fez corpo/ No corpo de mulher/ De Maria de Nazaré!
Carpinteiro e trabalhador/ De Maria enamorado
Se envolveu no mistério do amor/ E de Deus se tornou aliado
Ele disse "sim" também aceitou/ E a vida enfim alegrou cantou/
E o amor se fez Filho/ De um homem de fé/ De um artista chamado José!
Companheiro e libertador/ Do divino o Filho amado
Todo cheio da graça e do ardor/ Aos mais pobres se fez consagrado
Ele disse "sim" e se encarnou/ E a boa notícia enfim se escutou
E o amor se fez gente como a gente é / Em Jesus homem de Nazaré!
Mensageiro que Deus enviou / Veio trazendo divino recado
Pra menina o anjo anunciou/ Que o seu Deus estava apaixonado!
Ela disse "sim" e se entregou/ E o dia da graça enfim começou
E o amor se fez corpo/ No corpo de mulher/ De Maria de Nazaré!
Carpinteiro e trabalhador/ De Maria enamorado
Se envolveu no mistério do amor/ E de Deus se tornou aliado
Ele disse "sim" também aceitou/ E a vida enfim alegrou cantou/
E o amor se fez Filho/ De um homem de fé/ De um artista chamado José!
Companheiro e libertador/ Do divino o Filho amado
Todo cheio da graça e do ardor/ Aos mais pobres se fez consagrado
Ele disse "sim" e se encarnou/ E a boa notícia enfim se escutou
E o amor se fez gente como a gente é / Em Jesus homem de Nazaré!
sexta-feira, 2 de março de 2012
Bibliografia atualizada sobre Maria
1. Livros
MUNSTERMAN, H., María corredentora? Debate sobre um título mariológico. São Paulo: Paulus, 2009
MURAD, A., Maria, toda de Deus e tão humana. Compêndio de Mariologia. Paulinas - Santuário, 2012.
a) Maria na Bíblia (contexto, teologia e espiritualidade)
APARICIO, A (org.), Maria del evangelio. Claretianas, 1994.
BEATTIE, T., Redescobrindo Maria a partir dos Evangelhos. Paulinas, 2003.
BOFF, Cl, O cotidiano de Maria de Nazaré, Salesiana, 2003.
BROWN, R (org.), Maria no Novo Testamento, Paulinas, 1985.
BROWN, R., O nascimento do Messias. Comentários das narrativas da infância nos evangelhos de Mateus e Lucas. Paulinas, 2005.
MALINA, B.J., El mundo social de Jesús y los evangelios. Sal Terrae, 2002, p. 131-155.
MURAD, Afonso, Quem é essa mulher. Maria na bíblia. Paulinas, 1996.
PIKAZA, X., Amiga de Dios. Mensaje mariano del Nuevo Testamento. San Pablo, 1996.
SEBASTIANI, L., Maria e Isabel. Ícone da solidariedade. Paulinas, 1998
SERRA, A., Maria según el evangelio. Sígueme, 1988.
b) Maria no culto cristão: liturgia e devoção
BEINERT, W (org.), O culto a Maria hoje. Paulinas, 1980.
BISINOTO, E., Conheça os títulos de Nossa Senhora. Santuário, 2010, 2ed.
BOFF, Li, Maria na vida do povo. Ensaios de mariologia na ótica latino-americana e caribenha. São Paulo: Paulus, 2001.
BOFF, Li., Culto e práticas de devoção a Maria. Santuário, 2004.
DE FIORES, S., Eis aí tua mãe. Um mês com Maria. São Paulo: Ave-Maria, 2010, 2ed.
GONZÁLEZ DORADO, A., Mariologia popular Latino-americana, Loyola, 1991.
MAGGIONI, C., Maria na Igreja em oração. Solenidades, festas e memórias marianas no ano litúrgico. Paulus, 1998.
MEGALE, Nilza, 112 invocações da Virgem Maria no Brasil, Vozes, 1986.
c) Maria nos dogmas
BOFF, Cl., Dogmas marianos. Síntese catequético-pastoral. Ave-Maria, 2010.
BUCKER, B. et ali, Maria e a trindade. São Paulo: Paulus, 2002, p.119-162.
COSTA, S.R. (org.), Imaculada. Maria do povo, Maria de Deus. Vozes, 2004.
MARTINEZ SIERRA, A., La Inmaculada y el mistério del hombre, (Madrid) BAC Pastoral, 2004.
MEUNIER, B.,O nascimento dos dogmas cristãos. Loyola, 2005.
SOCIEDAD MARIOLOGICA ESPAÑOLA (ORG.), Mariologia en crisis? Los dogmas marianos y su revisión teologica, Estudios Marianos XLII, Barcelona, 1978.
SÖLL, Georg, Storia dei dogmi mariani, LAS, 1981.
TEMPORELLI, C., Dogmas Marianos. Paulus, 2010.
d) Marialogia Sistemática (Maria na bíblia, no culto e no dogma. Introdução geral)
BOFF, Cl., Introdução à mariologia, Vozes, 2003, p.11-16.
BOFF, Cl., Mariologia Social, Paulus.
BOFF, L, O rosto materno de Deus, Vozes, 1979.
CALIMAN, C (org.), Teologia e Devoção mariana no Brasil. Paulinas, 1989.
COYLE, K., Maria na tradição cristã a partir de uma perspectiva contemporânea. Paulus, 2005, 5ed.
DE FIORES, S., Maria en la teologia contemporánea, Sigueme, 1991.
DE FIORES, S., María, Madre de Jesús. Síntese histórico-salvífica. Secretariado Trinitário, 2002
DE LA POTTERIE, I., Maria en el misterio de la alianza. Madrid, BAC, 1993
FORTE, B., Maria, a mulher ícone do mistério. Paulinas, 1991.
GARCÍA PAREDES, J.C.R., Mariología, (Madrid) BAC, 2001.
GONZÁLES, C. I., Maria, Evangelizada e evangelizadora. Loyola, 1990.
JOHNSON, E., Nossa Verdadeira irmã. Teologia de Maria na comunhão dos Santos. Loyola, 2006, p.175-386.
L. BINGEMER, M.C. e GEBARA, I., Maria, mãe de Deus e mãe dos pobres. Vozes, 1987.
PIKAZA, X., La Madre de Jesús. Introducción a la mariologia, Sígueme, 1990.
TAVARD, G.H., As múltiplas faces da Virgem Maria. Paulus, 1999.
e) Temas diversos de mariologia
CANTALAMESSA, R., Maria, um espelho para a Igreja. Loyola. 1992.
COMISSÃO INTERNACIONAL ANGLICANO-CATÓLICA, Maria: Graça e esperança em Cristo. Paulinas, 2005.
DUQUESNE, J., Maria. A mãe de Jesus. Bertrand Brasil, 2005, p. 31-52.
GOMES-ACEBO, I., María y la cultura mediterránea em: VVAA, María, Mujer mediterránea, Desclée de Brouwer, 1999, p. 19-75.
GRUPO DE DOMBES, Maria no desígnio de Deus e a comunhão dos Santos. Santuário, 2005.
LAURENTIN, R., Apariciones actuales da la Virgen María. Madrid: RIALP, 1991
LAURENTIN, R., Maria, Clave del mistero cristiano, San Pablo, 1996.
MESTERS,C., Maria, a mãe de Jesus. Vozes, 3ed, 1987.
MÜLLER, G.L., Que significa Maria para nosotros, los cristianos? Reflexiones sobre o capítulo mariológico de la Lumen Gentium. (Madrid) Ed. Palavra, 2001.
MURAD, Afonso, O que Maria tem a dizer às mães de hoje. Paulus, 1997.
MURAD, Afonso, Visões e aparições. Deus continua falando? Vozes, 1997.
NAVARRO PUERTO, M., Maria, la mujer. Claretianas, 1987.
OSSANNA, T., Maria nossa irmã. Paulinas, 1997.
PIKAZA, X., Maria e o Espírito Santo. Loyola, 1987
Revista CONCILIUM, Maria nas Igrejas. Perspectivas de uma mariologia ecumênica. Fasc. 188, 1983/8. Ed. Vozes.
RIBLA – Revista de interpretação bíblica latino-americana. Maria. N.46. 2003/3. Vozes.
SCHILLEBEECKX, E. et HALKES, C., Maria ayer, hoy, mañana. Sígueme, 2000, p. 29-76 (introdução à mariologia).
UMBRASIL (org.), Maria no coração da Igreja. Paulinas, 2011.
2. Dicionários
DE FIORES, S. et MEO, S. (org.), Dicionário de mariologia. Paulus, 1995.
DE FIORES, S., SCHIEFER, V.F et PERRELLA, S.M (org). Mariologia (Dizionario), (Milano), San Paolo, 2009.
3. Documentos do magistério da Igreja católica
CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, capítulo 8, Vozes.
CNBB, Aparições e revelações particulares. Coleção Subsídios doutrinais, Brasilia: Ed. CNBB, 2009.
PAULO VI, O culto à Virgem Maria (Marialis Cultus), 1974, Paulinas.
JOÃO PAULO II, A mãe do redentor (Redemptoris Mater), 1989, Paulinas
JOÃO PAULO II, Carta Apostólica “O rosário da Virgem Maria. Paulinas, 2002.
CELAM, Documento de Aparecida
CELAM, Documento de Aparecida
(Atualizado em março de 2013)
Observações:
- Prioridade para bibliografia de língua portuguesa. Citamos obras importantes em espanhol e algumas em italiano.
- Classificação por aproximação. Há obras que correspondem a mais de um ítem.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Aparições de Nossa Senhora: um fenômeno complexo
As aparições de Maria constituem uma das muitas formas possíveis de manifestações místicas extraordinárias. Chamam-se “místicas”, pois referem-se ao Sagrado (que no cristianismo é nomeado como o Deus Trindade); consideram-se “extraordinárias” porque não acontecem no cotidiano da existência e nem em todas as pessoas. Dentre estas manifestações extraordinárias, citam-se: locuções interiores e exteriores, visões, sonhos de revelação, pré-monições, intuição, sensações de odores e toques e tantas outras possíveis formas de comunicação divina. Algumas pessoas as recebem somente em um momento especial da vida, como parte de seu processo de conversão e crescimento na fé. Em outras, são intermitentes ou constantes, mas acompanhadas da obrigação de manter segredo.
As aparições marianas seriam momentos especiais, na qual a Mãe de Jesus, glorificada na comunhão dos Santos, se mostra a um ou mais videntes e comunica-lhes algo da parte de Deus, em vista da caminhada espiritual da humanidade. Em uma aparição há ao menos um vidente que experimenta sensorialmente que Mãe de Jesus se manifestou a ele(a), com algo que seu corpo percebe em forma de imagem e palavras. Nem toda visão corresponde a uma Aparição. Pode ser que o(a) vidente se auto-sugestione, que sua mente exteriorize em forma de palavras e imagens algo que ele anseia fortemente, que está velado no seu inconsciente pessoal e/ou no imaginário coletivo. Neste caso, trata-se de uma experiência meramente subjetiva, pois a linguagem não expressa a presença de um Outro, vindo em forma de consolo e apelo, mas é uma produção mental do próprio vidente.
A teologia espiritual, baseada no testemunho de muitos santos e místicos, afirma que as manifestações divinas extraordinárias – nas quais se incluem as aparições marianas – são possíveis, mas não necessárias. No caminho da intimidade com Deus, imprescindíveis são a fé, a esperança e a caridade. Todas as outras manifestações são bem-vindas, enquanto direcionadas para o fim principal: seguir Jesus e ampliar seu reino neste mundo, em vista do “novo céu e nova terra”. São Paulo já estabeleceu este critério decisivo, no cântico de 1Cor 13: receber revelações de Deus (profecia), falar com grande eloquência, realizar milagres e feitos extraordinários.... tudo isso é secundário, em vista do amor solidário, que brota da adesão a Jesus (fé) e espera a manifestação plena da sua glória (1 Cor 13,13).
Qualquer fenômeno aparicionista tem simultaneamente várias dimensões. Vejamos algumas.
- Dimensão espiritual. Um ou mais videntes fazem uma experiência religiosa intensa, que eles sustentam ser uma comunicação de Jesus ou de Maria. Esta experiência transforma a vida deles e tende a se difundir, pois os videntes convocam outras pessoas a acolher e praticar a mensagem que afirmam ter recebido da esfera divina. Os movimentos aparicionistas nascem e se desenvolvem dentro de uma corrente de espiritualidade, ou seja, de uma maneira específica de viver e compreender a fé em Jesus. Então, para entender as aparições do ponto de vista teológica, recorremos à teologia fundamental (conceito de revelação), à teologia da Graça (autocomunicação de Deus e a resposta humana) e à teologia espiritual.
- Dimensão eclesial. Os videntes e seu grupo assumem determinada religiosidade católica, que herdaram de sua família e de sua cultura. No entanto, a vidência pode ser também uma experiência original, que não tem antecedentes na vivência eclesial dos videntes. Em segundo lugar, o movimento aparicionista recebe apoio de pessoas e grupos que sintonizam com determinada visão sobre a vida cristã e a Igreja. Estes se apropriam da mensagem dos videntes, na medida em que se identificam com ela. Filtram o conteúdo das palavras dos videntes, de acordo com sua percepção. Além disso, para serem reconhecidos pela Igreja, os videntes aceitam passar pelo processo de investigação e discernimento, sob a coordenação do bispo diocesano e, posteriormente, da Sagrada Congregação da Doutrina da Fé. Assim, embora partam de vivências individuais, as aparições são um fenômeno eclesial, em vários momentos: gênese, constituição, divulgação, discernimento, aprovação e apropriação. Para compreender as aparições do ponto de vista eclesial, recorre-se às ciências da religião, à eclesiologia e aos critérios teológicos-pastorais estabelecidos pela autoridade da Igreja.
- Dimensão psicossomática. Porque somente algumas pessoas veem e ouvem os apelos de Maria de forma sensorial? O que existe na estrutura mental dos videntes, que possibilita captar de uma forma original uma possível comunicação divina? Para responder esta pergunta, a teologia recorre às ciências que estudam os estágios de consciência alterada, os fenômenos da sensitividade e a paranormalidade. Tal estudo não tem a pretensão de esgotar a explicação do fenômeno místico com conceitos da razão humana, retirando assim o valor da intervenção divina. Ao contrário, pretende mostrar como Deus se manifesta, em sua imensa gratuidade, potencializando e transformando o que ele já colocou em suas criaturas.
- Dimensão cultural, social e simbólica. Cada homem ou mulher vive em determinado tempo e espaço. Interage com a sua cultura, recebe condicionamentos de seu contexto e atua sobre ele. Isso também acontece com os movimentos aparicionistas. Cabe à teologia, com humildade e coragem, apontar os condicionamentos culturais que influenciam os videntes e as suas palavras. Dsses elementos culturais não determinam as mensagens atribuídas a Maria. Mas, em distintos graus, as condicionam, no duplo sentido de “oferecer condições” e “limitar”. Talvez seja a dimensão que ofereça mais resistência para ser compreendida. Um percentual significativo de católicos que aceitam as aparições como uma comunicação real de Deus ou de Maria, julgam que os videntes são meros repetidores da mensagem divina, que desce à Terra em forma 100% pura, sem qualquer participação humana. Por isso, estas mensagens teriam um grau de certeza maior que a Bíblia (!), e seria superior à reflexão dos teólogos, o senso comum dos fiéis, ou até as orientações dos bispos, do Concílio Vaticano II e do Papa. A teologia, servindo-se dos estudos das ciências da religião e de outros saberes, tem o dever de apontar os condicionamentos humanos que interferem nas mensagens dos videntes, para favorecer o discernimento à luz da fé, alertar para os enganos e possíveis desvios e estimular uma vivência religiosa equilibrada e lúcida.
Uma leitura panorâmica da História da Espiritualidade cristã leva-nos a compreender que a vidência e outros fenômenos místicos extraordinários estiveram presentes em distinta intensidade, no correr dos dois milênios de cristianismo. Eles fazem parte da Tradição viva da Igreja. De outro lado, a história é sábia ao mostrar que a vidência não é imprescindível, nem para a santidade nem para a evangelização. Embora se encontrem volumosos livros listando prováveis aparições de Maria desde o início da Igreja, é indiscutível que – com algumas exceções, como Guadalupe – o fenômeno só ganha importância para a evangelização nos séculos 19 e 20.
Para compreender as aparições, é necessário recorrer a várias chaves de leitura, convergindo sempre para a pergunta: como esta experiência mística extraordinária pode a ajudar a caminhada da fé dos cristãos católicos, de forma lúcida e equilibrada.
Para saber mais, veja: Afonso Murad. Visões e Aparições. Deus continua falando? Vozes.
As aparições marianas seriam momentos especiais, na qual a Mãe de Jesus, glorificada na comunhão dos Santos, se mostra a um ou mais videntes e comunica-lhes algo da parte de Deus, em vista da caminhada espiritual da humanidade. Em uma aparição há ao menos um vidente que experimenta sensorialmente que Mãe de Jesus se manifestou a ele(a), com algo que seu corpo percebe em forma de imagem e palavras. Nem toda visão corresponde a uma Aparição. Pode ser que o(a) vidente se auto-sugestione, que sua mente exteriorize em forma de palavras e imagens algo que ele anseia fortemente, que está velado no seu inconsciente pessoal e/ou no imaginário coletivo. Neste caso, trata-se de uma experiência meramente subjetiva, pois a linguagem não expressa a presença de um Outro, vindo em forma de consolo e apelo, mas é uma produção mental do próprio vidente.
A teologia espiritual, baseada no testemunho de muitos santos e místicos, afirma que as manifestações divinas extraordinárias – nas quais se incluem as aparições marianas – são possíveis, mas não necessárias. No caminho da intimidade com Deus, imprescindíveis são a fé, a esperança e a caridade. Todas as outras manifestações são bem-vindas, enquanto direcionadas para o fim principal: seguir Jesus e ampliar seu reino neste mundo, em vista do “novo céu e nova terra”. São Paulo já estabeleceu este critério decisivo, no cântico de 1Cor 13: receber revelações de Deus (profecia), falar com grande eloquência, realizar milagres e feitos extraordinários.... tudo isso é secundário, em vista do amor solidário, que brota da adesão a Jesus (fé) e espera a manifestação plena da sua glória (1 Cor 13,13).
Qualquer fenômeno aparicionista tem simultaneamente várias dimensões. Vejamos algumas.
- Dimensão espiritual. Um ou mais videntes fazem uma experiência religiosa intensa, que eles sustentam ser uma comunicação de Jesus ou de Maria. Esta experiência transforma a vida deles e tende a se difundir, pois os videntes convocam outras pessoas a acolher e praticar a mensagem que afirmam ter recebido da esfera divina. Os movimentos aparicionistas nascem e se desenvolvem dentro de uma corrente de espiritualidade, ou seja, de uma maneira específica de viver e compreender a fé em Jesus. Então, para entender as aparições do ponto de vista teológica, recorremos à teologia fundamental (conceito de revelação), à teologia da Graça (autocomunicação de Deus e a resposta humana) e à teologia espiritual.
- Dimensão eclesial. Os videntes e seu grupo assumem determinada religiosidade católica, que herdaram de sua família e de sua cultura. No entanto, a vidência pode ser também uma experiência original, que não tem antecedentes na vivência eclesial dos videntes. Em segundo lugar, o movimento aparicionista recebe apoio de pessoas e grupos que sintonizam com determinada visão sobre a vida cristã e a Igreja. Estes se apropriam da mensagem dos videntes, na medida em que se identificam com ela. Filtram o conteúdo das palavras dos videntes, de acordo com sua percepção. Além disso, para serem reconhecidos pela Igreja, os videntes aceitam passar pelo processo de investigação e discernimento, sob a coordenação do bispo diocesano e, posteriormente, da Sagrada Congregação da Doutrina da Fé. Assim, embora partam de vivências individuais, as aparições são um fenômeno eclesial, em vários momentos: gênese, constituição, divulgação, discernimento, aprovação e apropriação. Para compreender as aparições do ponto de vista eclesial, recorre-se às ciências da religião, à eclesiologia e aos critérios teológicos-pastorais estabelecidos pela autoridade da Igreja.
- Dimensão psicossomática. Porque somente algumas pessoas veem e ouvem os apelos de Maria de forma sensorial? O que existe na estrutura mental dos videntes, que possibilita captar de uma forma original uma possível comunicação divina? Para responder esta pergunta, a teologia recorre às ciências que estudam os estágios de consciência alterada, os fenômenos da sensitividade e a paranormalidade. Tal estudo não tem a pretensão de esgotar a explicação do fenômeno místico com conceitos da razão humana, retirando assim o valor da intervenção divina. Ao contrário, pretende mostrar como Deus se manifesta, em sua imensa gratuidade, potencializando e transformando o que ele já colocou em suas criaturas.
- Dimensão cultural, social e simbólica. Cada homem ou mulher vive em determinado tempo e espaço. Interage com a sua cultura, recebe condicionamentos de seu contexto e atua sobre ele. Isso também acontece com os movimentos aparicionistas. Cabe à teologia, com humildade e coragem, apontar os condicionamentos culturais que influenciam os videntes e as suas palavras. Dsses elementos culturais não determinam as mensagens atribuídas a Maria. Mas, em distintos graus, as condicionam, no duplo sentido de “oferecer condições” e “limitar”. Talvez seja a dimensão que ofereça mais resistência para ser compreendida. Um percentual significativo de católicos que aceitam as aparições como uma comunicação real de Deus ou de Maria, julgam que os videntes são meros repetidores da mensagem divina, que desce à Terra em forma 100% pura, sem qualquer participação humana. Por isso, estas mensagens teriam um grau de certeza maior que a Bíblia (!), e seria superior à reflexão dos teólogos, o senso comum dos fiéis, ou até as orientações dos bispos, do Concílio Vaticano II e do Papa. A teologia, servindo-se dos estudos das ciências da religião e de outros saberes, tem o dever de apontar os condicionamentos humanos que interferem nas mensagens dos videntes, para favorecer o discernimento à luz da fé, alertar para os enganos e possíveis desvios e estimular uma vivência religiosa equilibrada e lúcida.
Uma leitura panorâmica da História da Espiritualidade cristã leva-nos a compreender que a vidência e outros fenômenos místicos extraordinários estiveram presentes em distinta intensidade, no correr dos dois milênios de cristianismo. Eles fazem parte da Tradição viva da Igreja. De outro lado, a história é sábia ao mostrar que a vidência não é imprescindível, nem para a santidade nem para a evangelização. Embora se encontrem volumosos livros listando prováveis aparições de Maria desde o início da Igreja, é indiscutível que – com algumas exceções, como Guadalupe – o fenômeno só ganha importância para a evangelização nos séculos 19 e 20.
Para compreender as aparições, é necessário recorrer a várias chaves de leitura, convergindo sempre para a pergunta: como esta experiência mística extraordinária pode a ajudar a caminhada da fé dos cristãos católicos, de forma lúcida e equilibrada.
Para saber mais, veja: Afonso Murad. Visões e Aparições. Deus continua falando? Vozes.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Maria, modelo da Igreja
O Concílio Vaticano II apresenta Maria, Mãe de Jesus Cristo, como "protótipo e modelo para a Igreja", e descreve-a como mulher humilde que escuta a Deus com confiança e alegria. Com essa mesma atitude temos de escutar a Deus na Igreja atual.
"Alegra-te". É o que primeiro Maria escuta de Deus e o primeiro que temos de escutar também hoje. Entre nós falta alegria. Com frequência deixamo-nos contagiar pela tristeza de uma Igreja envelhecida e gasta. Já não é Jesus a Boa Nova? Não sentimos a alegria de ser os Seus seguidores? Quando falta a alegria, a fé perde o frescor, a cordialidade desaparece, a amizade entre os crentes arrefece. Tudo fica mais difícil. É urgente despertar a alegria nas nossas comunidades e recuperar a paz que Jesus nos deixou de herança.
"O Senhor esteja contigo". Não é fácil a alegria na Igreja dos nossos dias. Só pode nascer da confiança em Deus. Não estamos órfãos. Vivemos invocando cada dia a um Deus Pai que nos acompanha, nos defende e procura sempre o bem de todo o ser humano.
Esta Igreja, às vezes tão desconcertada e perdida, que não acerta em voltar ao Evangelho, não está só. Jesus, o Bom Pastor, procura-nos. O Seu Espírito nos atrai. Contamos com o seu alento e compreensão. Jesus não nos abandonou. Com Ele tudo é possível.
"Não temas". São muitos os medos que nos paralisam, aos seguidores de Jesus. Medo do mundo moderno e da secularização. Medo de um futuro incerto. Medo da nossa debilidade. Medo da conversão ao Evangelho. O medo está nos fazendo muito mal. Impede-nos de caminhar para o futuro com esperança. Encerra-nos na manutenção estéril do passado. Crescem os nossos fantasmas. Desaparecem o realismo são e a sensatez cristã. É urgente construir uma Igreja da confiança. A força de Deus não se revela numa Igreja poderosa, mas sim humilde.
"Darás à luz um filho que se chamará Jesus". Também a nós, como a Maria, é-nos confiada uma missão: contribuir para pôr luz no meio da noite. Não estamos chamados a julgar o mundo mas a semear a esperança. A nossa tarefa não é apagar a pavio que se extingue, mas acender a fé que, em não poucos, está querendo brotar: Deus é uma pergunta que humaniza.
A partir das nossas comunidades, cada vez menores e mais humildes, podemos ser fermento de um mundo mais são e fraterno. Estamos em boas mãos. Deus não está em crise. Somos nós os que não nos atrevemos a seguir Jesus com alegria e confiança.
Autoria: José Pagola
"Alegra-te". É o que primeiro Maria escuta de Deus e o primeiro que temos de escutar também hoje. Entre nós falta alegria. Com frequência deixamo-nos contagiar pela tristeza de uma Igreja envelhecida e gasta. Já não é Jesus a Boa Nova? Não sentimos a alegria de ser os Seus seguidores? Quando falta a alegria, a fé perde o frescor, a cordialidade desaparece, a amizade entre os crentes arrefece. Tudo fica mais difícil. É urgente despertar a alegria nas nossas comunidades e recuperar a paz que Jesus nos deixou de herança.
"O Senhor esteja contigo". Não é fácil a alegria na Igreja dos nossos dias. Só pode nascer da confiança em Deus. Não estamos órfãos. Vivemos invocando cada dia a um Deus Pai que nos acompanha, nos defende e procura sempre o bem de todo o ser humano.
Esta Igreja, às vezes tão desconcertada e perdida, que não acerta em voltar ao Evangelho, não está só. Jesus, o Bom Pastor, procura-nos. O Seu Espírito nos atrai. Contamos com o seu alento e compreensão. Jesus não nos abandonou. Com Ele tudo é possível.
"Não temas". São muitos os medos que nos paralisam, aos seguidores de Jesus. Medo do mundo moderno e da secularização. Medo de um futuro incerto. Medo da nossa debilidade. Medo da conversão ao Evangelho. O medo está nos fazendo muito mal. Impede-nos de caminhar para o futuro com esperança. Encerra-nos na manutenção estéril do passado. Crescem os nossos fantasmas. Desaparecem o realismo são e a sensatez cristã. É urgente construir uma Igreja da confiança. A força de Deus não se revela numa Igreja poderosa, mas sim humilde.
"Darás à luz um filho que se chamará Jesus". Também a nós, como a Maria, é-nos confiada uma missão: contribuir para pôr luz no meio da noite. Não estamos chamados a julgar o mundo mas a semear a esperança. A nossa tarefa não é apagar a pavio que se extingue, mas acender a fé que, em não poucos, está querendo brotar: Deus é uma pergunta que humaniza.
A partir das nossas comunidades, cada vez menores e mais humildes, podemos ser fermento de um mundo mais são e fraterno. Estamos em boas mãos. Deus não está em crise. Somos nós os que não nos atrevemos a seguir Jesus com alegria e confiança.
Autoria: José Pagola
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