sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Saudação

Partilho com você este belo poema
da escritora Adélia Prado:

Ave, Maria!
Ave, carne florescida em Jesus.
Ave, silêncio radioso,
urdidura de paciência
onde Deus fez seu amor inteligível!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A festa do encontro

A vida humana se enriquece de maneira profunda quando há encontros.

Encontros de pessoas, de grupos, de povos, de nações.
Unir-se de fragmentos, soma transmutada em multiplicação.
Possibilidades de fortalecer e ampliar raízes, estabelecer conecções.
Algo mais do que estar geograficamente ou virtualmente próximo.
Gesto de aproximar-se, romper as solidões, questionar a auto-suficiência, trocar, abrir as mãos, olhar o outro e reconhecer sua alteridade.
Encontrar-se é tecer laços que transformam as diferenças em oportunidades de aprender.
Uma energia boa circula, de forma que os interlocutores se saciam, para buscar novos encontros ou tecer laços mais estreitos nos mesmos encontros.

O natal é a grande celebração do encontro.
Encontro de Deus com a humanidade, a ponto de se fazer um nós, para intensamente se tornar um conosco. Por isso, o menino de Belém é chamado “Emanuel”: Deus conosco.
Viva o natal, a festa do encontro!

Desta luz que ilumina tenuamente a gruta escura de Belém, se expande a Luz que se revela caminho a seguir, verdade em construção, vida comunicada.
Ao redor de Jesus acontecem muitos encontros: Maria, José, os pastores, os magos, o povo que se alegra. E essa alegria contagiante abraço o solo, o ar, a água, a energia do sol, os microorganismos, as plantas, os animais, toda a humanidade.
O filho de Deus se fez carne, se fez matéria. Para fazer-se encontro.

Maria, aquela que viveu de forma ímpar este encontro de Deus com a humanidade, como mãe do filho de Deus encarnado, seja nossa companheira na aventura de transformar a existência em encontros.
Que ela nos conduza a Belém, a casa do pão, da partilha, da alegria e da simplicidade.

Feliz natal!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Imaculada Conceição

A festa da Imaculada Conceição pode ser simbolicamente uma festa de toda a humanidade!
No Cântico que abre a Carta aos Efésios, Paulo proclama: “Antes da criação do mundo, Deus nos escolheu em Cristo para sermos diante dele santos e imaculados” (Ef 1). O sonho de Deus para toda a humanidade é este: criar laços de amor com as pessoas; crescer em sabedoria, idade e graça; louvar o criador; construir uma sociedade justa, solidária e sustentável, cuidar do belo jardim que é o nosso Planeta.
Mas, não somos assim. O ser humano, criado em Cristo na força do Espírito, à imagem e semelhança da Trindade, carrega na sua história pessoal e coletiva também a iniqüidade, a fragmentação, a fragilidade, a liberdade cativa que necessita ser libertada, para escolher o bem e não se desviar do caminho. Aí está o enigma da condição humana: tão bela e capaz dos piores horrores!
Quando a devoção à imaculada se espalhou pelo oriente e o ocidente, não havia preocupação em definir um dogma. A grande intuição residia na compreensão que nesta pessoa especial ecoava algo que dizia respeito a todos os homens e mulheres. Tanto que Tanto que a Igreja ortodoxa reconhece esta devoção, mas não aceita sequer discutir a questão dogmática. Os orientais crêem que, com a encarnação do Filho de Deus no mundo, tanto a humanidade quanto o cosmos caminham em direção à divinização. Jamais seremos deuses, mas participaremos da vida de Deus.
Simbolicamente, o dogma da Imaculada sustenta que esta graça criadora, redentora e santificadora, atuou em Maria de uma maneira extraordinária, potencializando seu ser, tornando-a capaz de responder ao apelo com inteireza e intensidade ímpar. Esta mulher agraciada não é menos humana que nós. Ao contrário. É a humanidade querida por Deus.
Maria de Nazaré não é rainha, nem mulher poderosa. Lucas e João apresentam-na como a servidora do Senhor, a serviço da grande causa de Jesus e do Reinado de Deus. Vive tantos papéis, como a de educadora e discípula de Jesus, mãe e seguidora. Deve fazer um longo caminho na fé. Acolhe o que não compreende, por isso deve meditar e guardar no coração, procurando o sentido dos fatos. Aponta para Jesus, e nada retém para si: “Façam tudo o que ele disser a vocês”. Persevera até o fim! Participa com a comunidade do sofrimento da cruz e da alegria da vinda do Espírito.
As pinturas da Imaculada, como a famosa de Murillo, apresentam-na como uma mulher bela, jovial, com as mãos em prece ou abertas. Acolhe a luz e a graça que se origina somente de Deus. Que bela imagem, que sonho alentador! Que a imaculada nos inspire a inteireza, a beleza que brota da ética, as mãos que se abrem para cuidar de si, dos outros, do mundo. Amém!
Texto de Afonso Murad