segunda-feira, 31 de maio de 2010

Visitação de Maria a Isabel

A festa da visitação, encerrando o mês de maio, traz uma mensagem simples e atual. Após aceitar seu compromisso de servidora de Deus e mãe do messias, ela se põe a caminho para casa de sua parenta Isabel. E Lucas ressalta: “apressadamente”. Trata-se da mesma atitude dos pastores, que também saem “apressadamente” para ver Jesus em Belém.
Esta expressão poderia soar tão normal, pois hoje tudo se faz com pressa. Aliás, com estresse. O tempo se tornou tão rápido, que a gente não consegue mais contemplar os fatos com calma. Ontem foi lua cheia, e ninguém viu. Parece estranho alguém se deter em silencio para sentir a luz prateada da lua, ou provar os belos tons do entardecer, ou mesmo se guardar na memória o sorriso de outra pessoa.

Estranhamente, as pessoas apressadas também se tornam indiferentes. Pois o olhar e a atenção não se fixam em nada. Nesta correria, não se sabe bem para onde se dirige a existência. Há pressa, mas pouca mobilização. Muito movimento e pouca mudança. E talvez aí resida o segredo do relato da anunciação, compreendido à luz da existência contemporânea.
Maria sai em busca de Isabel, para partilhar sua alegria. A pressa não expressa estresse, mas sim um desejo enorme, a convicção, a generosidade. Do encontro, brota alegria. O Espírito Santo circula naquela pequena comunidade de mulheres grávidas. E por fim, Maria expressa sua gratidão a Deus: “O Senhor fez em mim maravilhas, Santo é seu nome”.

Que a festa de visitação suscite em nós o desejo de ir ao encontro dos outros, com pressa e sem estresse. À luz desse encontro, cultivemos relações de qualidade. Que ela também renove a alegria e o senso de gratidão ao Deus que em nós também faz maravilhas.

Texto: Afonso Murad

domingo, 23 de maio de 2010

Oração: Maria e o Espírito Santo

Pai materno, Fonte da Vida, nós te louvamos,
pois em ti somos, nos movemos e existimos.
Teu espírito criador, presente desde início na evolução do cosmos
baila sobre as águas,
sustenta, renova e leva à consumação toda a criação.

Jesus, nosso mestre e Senhor,
ungido pelo Espírito desde o começo de sua missão,
cheio do Espírito na tentação, no deserto, no meio do povo, na missão,
obrigado pois nos concedes o Paráclito,
o Espírito que nos consoma, nos confirma e nos abre para compreender a verdade peregrina,
que só se consumará quando Deus for tudo em todos.

Trindade Santa, nós te louvamos, pois vieste fazer morada em nosso meio.
E agora nos concedes o dom de sermos templos vivos do Espírito!
Nós te louvamos pela tua serva, Maria, mãe de Jesus
Agraciada por Deus de forma especial
Marcada pela ação fecundo do Espírito, que vem sobre ela como “força do altíssimo”,
que a reveste com sua sombra protetora e geradora de Vida.
Ela, como membro e mãe da comunidade,
junto com outros discípulos-missionários
prepara a vinda do Espírito em Pentecostes.

Com ela, proclamamos alegremente:
“O Senhor fez em nós maravilhas, Santo é seu nome”.
Como ela, vivemos a presença do Espírito santificador,
que não nos tira do mundo, mas sim nos livra da visão mundana.
A seu exemplo, somos místicos, homens e mulheres de Deus
e profetas: cidadãos lúcidos, críticos e esperançosos.
Pois cremos que o Senhor renova a face da Terra,
em múltiplos rostos e possibilidades. Amém!

Ir. Afonso Murad

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ladainha a Maria (1)

   Nós te louvamos Maria:

. Porque foste escolhida por Deus
. Porque respondeste a seu chamado
. Porque permaneceste fiel ao Deus que te chamou
. Porque todos os dias aprofundastes o teu chamado
. Porque refletias sobre teu chamado
. porque deste um sim lúcido a Deus
. porque soubeste ser mulher em todos os momentos

. Porque foste, com outras mulheres, mulher libertadora
. Porque permaneceste cheia de graça
. Porque ouviste e praticaste a palavra do teu Deus
. Porque buscavas entender o que se passava contigo
. Porque amaste o teu povo
. Porque antes de levar Deus no ventre já o tinhas no coração
. Porque sabias orar e perseverar na oração

. Porque amaste José em todas as circunstâncias
. Porque em teu ventre a palavra se fez vida
. Porque soubeste ser mãe, na alegria e na dificuldade
. Porque soubeste aprender com o filho que nascia
. Porque aprendeste com o filho que crescia
. Porque educaste o filho no diálogo sereno e franco
. Porque soubeste incentivar o filho a se manifestar ao povo

. Porque sabias pedir ao filho em favor dos outros
. Porque entendeste a missão profética do teu filho
. Porque assumiste as dores e os riscos da missão de Jesus
. Porque estavas junto e perto do teu filho
. Porque assumiste o evangelho de Jesus
. Porque sem ti o evangelho se desencarnaria
. Porque és mãe para os discípulos de teu filho

. Porque te tornaste modelo da Igreja que serve
. Porque te proclamaste e agiste como servidora de Deus
. Porque és o primeiro grande fruto da Igreja
. Porque assumiste o papel de mãe da Vida Nova
. Porque és verdadeira mãe de Deus e dos cristãos
. Porque demonstras predileção pelos pequenos e oprimidos
. Porque assumes a feição e as cores dos mais necessitados

. Porque és a pessoa humana que esteve mais perto de Deus
. Porque soubeste viver sem pecado
. Porque assumiste a Palavra de forma consciente
. Porque formaste com José e Jesus uma família feliz
. Porque assumistes as conseqüências da tua maternidade
. Porque não ocupaste nunca o lugar do teu filho
. Porque permaneceste apontando sempre para Ele

. Porque és modelo completo de fidelidade a Jesus Cristo
. Porque, com Jesus, foste protagonista da história
. Porque soubeste profetizar, no silêncio e na palavra
. Porque muitos povos e religiões te veneram
. Porque fostes e és mãe dos mártires e confessores
. Porque na Igreja permaneces testemunha fiel de Jesus Cristo.
. Porque é discípula e missionária, junto conosco.

Padre Zezinho, adaptado por Afonso Murad

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Missionária e mãe

Partilho com você um texto do Padre Zezinho, neste mês de maio

Não está escrito em nenhum lugar da Bíblia que Jesus enviou Maria em alguma missão. Também não está escrito que não enviou. O que está escrito é que ele, em missão, se fazia acompanhar, coisa rara naquele tempo, também de mulheres missionárias, que mesmo não pregando, estavam lá no grupo com ele e os discípulos. Seguiram Jesus desde a Galiléia para cuidar de suas necessidades( Mt 27,55) O cristianismo começou com homens missionários e mulheres missionárias, já que ser missionário não significa apenas pregar a palavra, mas leva-la e ajudar a leva-la. Elas estavam lá firmes na caminhada, ao pé da cruz, no enterro e na ressurreição. Na sua morte, entre as mulheres, estavam, Maria Madalena, Salomé, Maria, mãe de Tiago,de José, de Simão e de Judas (Mt 13,55; Jd 1,1 ; Mc 15,40) Os filhos desta Maria missionária eram chamados irmãos de Jesus. Mas não era a mesma Maria de José, a mãe de Jesus. Há uma confusão nos evangelhos( Mt 13,55) mas logo depois ela se desfaz em outras passagens quando se atribui aos mesmos um outro pai: Alfeu. Então havia uma Maria de Alfeu e uma Maria de José, esta a mãe de Jesus. As duas, missionárias.

E então? É impensável que Jesus tema chamado estas mulheres para a missão sem ter chamado Maria. Até porque viveram juntos mais de 30 anos e Maria estava lá, firme ao pé da cruz, como estivera firme em momentos importantes da sua vida. E estava lá quando o Espírito Santo veio sobre os presentes. As línguas de fogo não pousaram só nos homens. Nos Atos se lê que o fenômeno aconteceu com todos os presentes.( At 2,4) Lá se lê que entre eles estava Maria, sua mãe, seus “irmãos”que já sabemos que tinham outra mãe e as outras mulheres.(At 1,14) Nossas Igrejas ensinam que o Espírito Santo não vem apenas para os pregadores. Os que estavam lá orando ( At 1,14) eram missionários e todos receberam o Espírito Santo.

Quando pois proclamamos Maria missionária, porque ora com os discípulos e com as outras mulheres, porque que age e intercede pelos outros como nas bodas de Caná, porque não se afasta dele por nada, desde o berço até à cruz, estamos falando da mãe que deu todo o apoio ao filho e com quem ele pôde contar o tempo todo. Se, por anunciarmos Jesus, alguém nos chama de missionários, imaginem Maria! Alguém amou e entendeu Jesus mais do que ela? Entre nós católicos, outubro o mês das missões é também dedicado a ela. Nem podia ser de outra forma...Ninguém foi tão comprometido com ele quanto sua mãe. Acostumemo-nos a vê-la dessa forma. Perto dessa missionária não há católico nem evangélico que não se curve respeitoso... Se título cabe aos apóstolos e a nós cabe também a ela. arCom muito mais mérito e razão.

domingo, 2 de maio de 2010

Maria de Nazaré da Galiléia

O Evangelho de João narra uma cena pouco conhecida. Filipe encontra Natanael e lhe diz que encontrou o “Escolhido de Deus” (messias), Jesus de Nazaré. Natanael lhe responde, com descrédito: De Nazaré pode vir alguma coisa boa? (Jo 1,45). Em outra cena, os chefes dos sacerdotes e o grupo dos fariseus afirmam: “Examine, e você verá que da Galiléia não surgiu nenhum profeta” (Jo 7,52). Nazaré e Galiléia estavam foram do centro das atenções.

No tempo de Jesus, a palestina estava dividida, do ponto de vista cultural e política, em três regiões: ao Norte, a Galiléia; ao centro, a Samaria; e ao Sul a Judéia. Embora tivesse uma situação melhor que a Samaria, habitada por um grupo religioso não-judeu, a Galiléia não era vista com bons olhos pelos judeus da religião oficial. O Norte da Palestina esteve ocupado por outros povos, durante o exílio. Então, naturalmente, quando os judeus voltaram a habitar na região, foram incorporando alguns elementos culturais ali presentes. O povo da Galiléia não era considerado pelas autoridades de Jerusalém como aquele que seguia plenamente a lei judaica da pureza. A palestina também era tida como uma região politicamente efervescente. De lá haviam saído vários grupos rebeldes ao poder romano, como aquele comandado por uma tal Judas, o Galileu (At 5,37). Por isso, Pilatos manda colocar sobre a cruz de Jesus uma frase cheia de ironia: “Jesus Nazareno, rei dos Judeus” (Jo 19,19).

No entanto, é na Galiléia que Jesus vive grande parte de sua missão. Lá amadurece seu projeto de vida. Percorre vilas e povoados durante três anos, anunciando o Reino de Deus. Forma seus discípulos nos caminhos empoeiradas da Galiléia, nas montanhas e nos lagos. E, quando ressuscitado, volta glorificado para lá, chamando os seus seguidores para virem ao seu encontro (Mt 28,10.16).

O que significa tudo isso para Maria? Quando Lucas descreve a vocação dela, faz questão de situar: O enviado de Deus foi enviado à Nazaré da Galiléia, e uma moça prometida em casamento a José (Lc 2,4). Nazaré faz parte da identidade de Maria. Ela vem de uma cidade simples e desconhecida, próxima à Fenícia (hoje, o Líbano), num ambiente de diversidade cultural e religiosa e esperanças de mudanças. O evangelho a apresenta assim: Maria de Nazaré. Mais tarde, escritores incomodados com essa simplicidade de Deus, pintarão a anunciação no templo de Jerusalém. Colocarão Maria ao lado dos sacerdotes, quase como uma monja. Mas isso não traduz o anúncio do evangelho.

Hoje, em tempo de celebridades, de supervalorização dos centros urbanos, da cultura do sucesso e da imagem, é bom se lembrar desta expressão: “Maria de Nazaré”. Para Deus, não importa a aparência, o lugar de proveniência, os títulos. Conta sobretudo a qualidade do gesto. E nisto, Maria de Nazaré tem muito a nos ensinar. Amanhã veremos....

sábado, 1 de maio de 2010

O ventre de Maria

O que houve com Maria foi algo além do que poderíamos sequer ousar imaginar.
Deus Filho se encarnando no ventre de uma jovem mulher? E Deus tem um filho? Como? Então, não é um só Deus? E se Deus, segundo algumas religiões é só uma pessoa, como pode Deus ter um filho, que é Deus como Ele?
Aí aparecem os cristãos dizendo que Deus é um só ser, mas este ser não é só uma pessoa e sim três pessoas num só ser! Maria também não sabia disso! De repente um anjo lhe aparece e ela fica com medo. Medo do quê? Pergunta o anjo. – Você foi escolhida e Deus, o altíssimo vai se encarnar como pessoa humana, dentro do seu ventre. Você vai abrigar o Filho do Altíssimo..

É claro que Maria não entendeu. -Se você que vem de lá, está falando isso, que seja como você falou! Que aconteça o que Deus quer que aconteça! Disse ela. E ficou com aquilo na cabeça e no coração. Como assim? Vou ser mãe de um modo como virgem alguma jamais foi? A cada momento ela aprofundava mais aquele fato. Todas as gerações irão discutir isso até o fim dos tempos. E muitos vão dizer que Deus fez coisas incríveis em mim e dirão que sou feliz. Mas eu sei o que me espera!

Guardou silêncio e só falou com quem fosse capaz de entende-la, porque também tinha passado por uma gravidez fora do comum: sua parenta Izabel. Nem com José ela falou. Entregou o noivo aos cuidados de Deus. E foi o céu que disse a José para não ter medo da gravidez de Maria. Ele a levou para a sua casa, tornando-se cúmplice daqueles fatos. Filho especial, mãe especial, gravidez especial, paternidade especial...

Hoje, alguns crentes cristãos de outras Igrejas e de outras religiões, e mais ainda os ateus acham difícil crer na virgindade de Maria. Há versículos da mesma Bíblia, deixando claro que aqueles que são citados como irmãos de Jesus têm outra mãe. Judas, Simão, Tiago e José que eram filhos de Maria de Alfeu. Em várias passagens são citados como irmãos entre si e também como irmãos do Senhor, que porem era filho de outra Maria, a de José. Então não eram irmãos de sangue nem do mesmo ventre. Mas os versículos estrategicamente nunca são lidos nem lembrados.  Então, muitos deles insistem que Maria teve outros filhos logo, só foi virgem até Jesus. Depois deles foi mãe como outra mãe qualquer.

Vai ser sempre difícil crer que Deus é três pessoas divinas, Pessoa-Pai-Santo, Pessoa-Filho-Santo e Pessoa-Espírito-Santo e que as três pessoas são um só ser. Alguém sempre reduzirá Jesus Cristo, o ungido, no máximo à condição de profeta porque e um absurdo dizer que alguém é Deus de Deus. Nós que o vemos como Filho Eterno do Pai Eteno, com o Espírito Santo Eterno formando um só ser Deus Eterno, mas afirmando sua encarnação, seremos vistos como impostores, confusos, enganadores, ignorantes, fanáticos ou pouco inteligentes.

Para eles, inteligente é quem conclui ou crê ou nega como eles. Para nós, inteligente é quem lê dentro dos acontecimentos.Maria inteligentemente praticou o “intus-legere”. Leu dentro, guardou-os no coração e foi aprofundando, sem nada afirmar, passo a passo com o filho, do nascer ao morrer, ao ressuscitar e ao voltar ao céu. Ela mais pensou do que falou. Fez o contrário de milhões de pregadores que mais falam do que pensam e acham que quanto mais marketing usarem e quanto mais falam do que Deus fez neles mais serão de Deus. O que houve com Maria foi fora de qualquer cogitação humana.

Jamais conseguiremos explicar que Deus-Pessoa-Filho existe e se fez homem. Maria também não saberia e nem inventar, nem prever isso. Teve que ir assimilando; a cada golfada de leite; a cada roupa dele que lavava; a cada papinha que lhe pôs na boca; a cada palavra que lhe ensinou; a cada brincadeira, choro e riso e... mais tarde a cada palavra que disse e a cada golpe que levou. Acreditou na medida em que meditava. Isso também fez Maria diferente. Ela pensava! Era pensadora. Por isso, assimilou! Poderíamos aprender com ela porque o mundo está superlotado de pregadores e de fiéis que preferem mais sentir do que pensar. O mundo será mudado pelos que conseguem fazer as duas coisas.

Padre Zezinho