domingo, 26 de julho de 2009

Aparições de Maria (1)

Aqui estão centrais sobre o tema das Aparições, com breves respostas. Para saber mais, veja o livro "Visões e Aparições. Deus continua falando?", Ir. Afonso Murad. Vozes.

1. Para que existem aparições, se Deus deixou sua Revelação na Bíblia?
As aparições não são consideradas uma nova Revelação de Deus, para completar ou continuar o que Jesus Cristo nos deixou. Elas são simplesmente uma experiência mística, vivida pelos videntes na presença de Nossa Senhora, para recordar a única revelação de Deus em Jesus Cristo. Os videntes relembram alguns aspectos da vida de fé, como a conversão, a oração, a penitência, a renovação da opção pelo Evangelho. Embora seja uma forma de comunicação extraordinária, as mensagens das aparições não substituem nem a Bíblia nem o Espírito Santo, que fala no coração de cada cristão e da comunidade. Um vidente ou uma pessoa comum, que vive sua fé intensamente, ambos têm o mesmo direito de serem escutados e acolhidos pelos seus irmãos, quando pronunciam palavras inspiradas.

2. Existem aparições ou elas são projeções dos videntes?
A pergunta deve ser respondida concretamente para cada caso. Há ocasiões em que existem muitos indícios de uma forte presença de Deus, fazendo-nos acreditar que não há uma experiência religiosa autêntica, como em Guadalupe, Lurdes e Fátima. Em outras, o bom senso leva a crer que há algo errado, mesmo que apareçam sinais cósmicos e aconteçam milagres. O fato de haver curas, conversões ou mesmo mudanças na natureza não provam que uma aparição seja legítima. Pois muitas vezes estes fenômenos têm sua origem na fé e na força espiritual da multidão reunida, e não na presença de Maria e no testemunho espiritual do vidente. Quando aparecem videntes fanáticos, com mensagens apocalípticas e moralistas, que não estão em sintonia com o evangelho e a caminhada da Igreja, não devem ser aceitos como legítimos.

3. Maria fala realmente aos videntes? As mensagens dos videntes se originam de Maria?
As aparições não são uma comunicação de Deus direta, em estado puro. Na mensagem do vidente, vêm misturadas as suas experiências psicológicas e culturais, a visão que ele tem do mundo, a mentalidade da época e tantas outras coisas. Até nas aparições reconhecidas pela Igreja, há muitas mensagem dos videntes na qual afloram o inconsciente coletivo, as manifestações devocionais. Por exemplo, a descrição do purgatório e o devocionismo dos santos, em Fátima. Usando uma comparação: os videntes não são como antenas parabólicas, que captam uma mensagem, inacessível para nós. São, antes, “destiladores” de uma experiência mística pessoal. Eles sempre transmitem uma experiência religiosa que foi destilada pela sua subjetividade psíquica e espiritual. Impossível fugir disso. Até a bíblia necessita ser interpretada, pois é Palavra de Deus em linguagem humana. Imagine então a mensagem de um vidente! Por isso, as mensagens de aparições não podem ser tomadas ao pé da letra, como se fosse uma comunicação “diretinha” de Jesus ou de Maria. Na mensagem do vidente, é necessário discernir o que pode ser um apelo de Deus para nós. Tomar o que é bom e deixar fora o que não nos ajuda a viver “na liberdade dos filhos de Deus” (Gal 5,1).

4. Porque só algumas pessoas vêem Nossa Senhora? Elas têm mais fé do que nós?
O fato de ver ou ouvir Maria não significa que os videntes tenham mais fé do que nós. Para um cristão, o mais importante não é ver coisas extraordinárias, mas entregar o coração para Deus, buscar realizar sua vontade e esperar nEle. A fé não precisa de sinais, embora agradeçamos muito a Deus quando Ele nos deixa algum. As pessoas que vêem ou ouvem aparições são chamadas de “videntes” ou “confidentes”. Normalmente, elas têm um poder mental extraordinário, são “sensitivas” ou “para-normais”. Dessa forma, vivenciam e interpretam a presença de Deus de maneira mais intensa do que nós. No momento de uma provável aparição, elas entram em “êxtase”, um forma de alteração da consciência, atestada por muitos estudos científicos. Deus pode se servir dessa capacidade extraordinária das pessoas, para nos comunicar algo de seu amor, através de Maria. No entanto, os para-normais ou sensitivos captam, elaboram e transmitem sua experiência, de acordo com seu nível espiritual e o equilíbrio psíquico. Ou seja, pessoas pouco evoluídas espiritualmente podem entrar em êxtase, mas a sua experiência mística será de qualidade duvidosa. Além disso, há indivíduos com sérios distúrbios psíquicos, que têm êxtases simulados. Dando azo à sua loucura, podem atrair multidões e levá-las ao engano.

5. Por que hoje há tantas pretensas aparições?
O mundo de hoje está em crise, vive conturbado. A passagem do milênio deixou muitas perguntas sobre o futuro do nosso planeta. As pessoas, desesperadas, confusas, cheias de problemas pessoais e familiares, com medo, procuram na religião alguma coisa segura, na qual se agarrar. Buscam alívio, consolo e algumas certezas para viver. Elas ficam encantadas com as coisas maravilhosas e mágicas da religião. Todo esse ambiente de insegurança, crise e medo da sociedade moderna levou a um reencantamento com o sagrado. Isso cria um ambiente favorável para surgir e se desenvolver fenômenos místicos extraordinários. Quando se tem notícia de uma possível aparição, as multidões correm ávidas para o local, na esperança de encontrar o que buscam: a paz, a cura, o emprego, a felicidade pessoal, o sentido para viver.... E o fato se divulga logo, com a facilidade dos transportes e dos meios de comunicação.

6. Por que alguns videntes insistem sobre o fim do mundo e o castigo de Deus sobre a humanidade?
Esse é um exemplo típico de como se misturam, na experiência do vidente, a mensagem de Deus com as coisas humanas. No passado, muitos santos e videntes já erraram quando fizeram previsão do fim do mundo e da segunda vinda de Jesus (parusia). Sempre que há uma grande crise nas civilizações, como está acontecendo hoje, alguns prevêem a destruição como única forma de purificação, para recomeçar direito. Na verdade, nós não sabemos sobre o fim do mundo (Mt 24,36). O futuro do mundo está nas mãos de Deus, e depende também das atitudes da humanidade. De qualquer forma, a verdadeira conversão não nasce do medo da destruição, mas da certeza que Deus é bom, que ele exerce sua compaixão pela humanidade e nos chama a uma vida plena (Jo 10,10).

7. Como distinguir se uma aparição é autêntica?
(Esta e outras perguntas serão respondidas no próximo artigo do blog)

Fonte: Afonso Murad. Maria, toda de Deus e tão humana. Paulinas.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Maria nos Apócrifos

No início do Cristianismo, surgiu uma enorme diversidade de textos. Alguns deles foram incluídos no Novo Testamento (textos canônicos). Outros foram atacados, suprimidos e até mesmo destruídos. Muitos chegaram até os dias atuais e são conhecidos como textos apócrifos, entre os católicos; entre os evangélicos como pseudoepígrafos. Desses, somente em relação ao Novo Testamento foram classificados 60 livros, enumerados entre evangelhos, atos, epístolas, e apocalipses. Cada um deles nasceu num contexto histórico determinado, com intenções específicas, nos informado assim sobre as várias formas de fé e prática cristãs nos séculos II, III e IV. E mais. Também através desses textos é possível evidenciar o processo constitutivo de um grupo cristão primitivo que se estabeleceu como predominante na religião e determinado pelos séculos seguintes no que eles acreditariam, o que praticariam e o que leriam como textos sagrados.
Muitos desses textos apócrifos mostram detalhes peculiares, que os Evangelhos Canônicos não se interessaram: como por exemplo, os relatos da infância de Jesus, narrando como foi criado, que coisas fez quando criança, como viveu na Família de Nazaré, seu relacionamento com sua mãe, o convívio com seu pai. Outros tratam de temas ou personagens específicos, complementando informações e fatos que, nos Evangelhos Canônicos, não encontramos senão, citações bem lacônicas. Desses escritos, destacamos aqui, os textos sobre Maria, mãe de Jesus. Elucidam detalhes sobre sua vida ou se dedicam a ela especificamente. Alguns deles são bem antigos, datam dos meados século II. Existem ainda uns poucos que são datados na Idade Média, quando a devoção mariana ganhou novas cores e novo vigor. Cito os mais importantes.

1 – Evangelho do Pseudo-Mateus: datado do século IV conta o nascimento de Maria e a infância de Jesus, com elementos gnósticos.
2 – Proto-Evangelho de Tiago: datado do século II, é atribuído a Tiago, o Irmão do Senhor. Ressalta o aspecto divino da vida e participação de Maria como mãe de Jesus. Apresenta o nascimento de Maria como um fato extraordinário, filha de um casal estéril: Joaquim e Ana. Descreve a consagração de Maria no templo, o casamento com o ancião José (viúvo com vários filhos) e sua virgindade perpétua. Este texto apócrifo influenciou sobre maneira a tradição popular da Igreja. Como, por exemplo, a celebração do dia dos pais de Maria, no dia 26 de julho. No Oriente venerava-se Santa Ana no século VI, e tal devoção estendeu-se lentamente por todo o Ocidente a partir do século X até atingir seu auge no século XV. Influenciou a iconografia cristã, quanto ela apresenta José como um senhor idoso de barbas brancas. Contudo, nesse evangelho, numa tentativa de afirmar veementemente o parto virginal de Maria e assim sua virgindade perpétua, há o relato de um bizarro “exame ginecológico” que uma parteira chamada Salomé, faz em Maria constatando a intacta pureza de Maria.
3 – Proto-Evangelho da Natividade de Maria: do século III, tenta demonstrar como foi importante o papel de Maria na história do Cristianismo.
4 – História de José, o carpinteiro: possivelmente do século IV, este livro trata da história de José, contada por Jesus aos Apóstolos no Monte das Oliveiras. Entretanto, Maria aparece em vários relatos: a vida no Templo, o casamento com José, o natal em Belém, a fuga para o Egito, sua aflição diante da morte de José.
5 – Evangelho de Bartolomeu: do século III, neste relato Maria fala, a pedido dos Apóstolos, sobre como recebeu a anunciação do anjo e a concepção.
6 – Evangelho armênio da Infância: fala da relação de Maria com o Menino Jesus, e traz alguns detalhes sobre como ela concebeu do Espírito Santo pela orelha! Maria é colocada como a nova Eva e mãe da humanidade. Datado do século VI.
7 – Evangelho dos Hebreus: Este evangelho menciona alguns eventos da vida de Jesus. Incorporando idéias gnósticas, foi utilizado por cristãos judeus no Egito. Relata que Maria é uma força que desceu do céu. Datação: século II.
10 – Trânsito de Maria do Pseudo-Militão de Sardes: narra a morte, a ressurreição e assunção de Maria. Possivelmente do século IV.
11 – Livro de São João evangelista, o teólogo, sobre a passagem da santa mãe de Deus: do século IV este texto conta, principalmente os detalhes da morte de Maria e sua assunção num domingo. 12 – Livro de São João, arcebispo de Tessalônica: organizado em forma de homilia, o texto considera sobre a festa da Assunção de Maria, porém sem os exageros. Datação provável é do século IV. Ele deve grande influência na devoção mariana posterior.
13 – Livro do Descanso: provavelmente do século III, porém há estudiosos que dizem até o século VI. Além de narrar a assunção de Maria, comenta fatos da sua vida e dos apóstolos.
14 – Passagem da Bem-aventurada Virgem Maria: os códices usados para o texto são do século XIII e XIV. Sua datação exata é ainda duvidosa. No texto Maria se queixa com João por tê-la abandonado apesar do pedido de Jesus, e fala da sua assunção, apresentando também a incredulidade de Tomé por não ter presenciado a morte de Maria. Termina assim: Roguemos insistentemente àquela cuja Assunção é hoje venerada e honrada por todo o mundo que se lembre de nós nos céus diante de seu piedosíssimo Filho.
15 – Evangelho Apócrifo da Virgem Maria: diz a lenda que este texto ficou famoso pelo fato de ter sido citado no apêndice da obra de uma cristã espanhola do século IV, chamada Etéria. Ela teria entrado em contato com esse texto numa peregrinação que fez a Terra Santa de um monge grego companheiro de São Jerônimo. Estudos posteriores demonstram que se trata de uma obra da Idade Média onde a devoção mariana ganha ascensão.

Esses textos surgem como convergências, divergências e disputas entre os diversos grupos cristãos. Nessa época não é possível se falar de um cristianismo acabado, com seus dogmas definidos. Cada grupo tenta estabelecer suas verdades, suas práticas e cultos. Muitos são influenciados pelo Gnosticismo, doutrina pela qual a salvação se dá através do conhecimento. Essa corrente ideológica atraiu muitos que se sentiam estranhos no mundo e que tinham uma visão pessimista dele. Surgem as primeiras controvérsias cristológicas: Docetismo versus a valorização da vida terrena de Jesus; a questão da divindade e humanidade de Jesus; para os gnósticos Cristo é o ser perfeito que veio libertar o ser humano da sua condição inferior e levá-lo de volta a plenitude. Quem conhece Cristo se torna outro Cristo e não apenas um simples cristão. Por isso, o aspecto da divinização da mãe do Senhor é importante.

O conjunto dos textos apócrifos sobre Maria, apesar de terem muitos elementos, não desenvolvem um pensamento teológico elaborado, não defendem uma tendência específica, seja do Cristianismo proto-ortodoxo, gnóstico ou de quaisquer outras. Eles são uma mistura dessas correntes. Portanto, é possivel que esses textos tenham sido escritos, em sua maioria, para satisfazer curiosidade de alguma comunidade cristã, fruto da imaginação de seus autores, criando uma espécie de novela da vida e do cotidiano de Maria. Aproveitando, obviamente para reforçar idéias como a concepção virginal, a virgindade perpétua, sua participação na obra salvífica de Deus, a assunção aos céus, seu lugar entre os apóstolos, pintando com tintas bem fortes os aspectos extraordinários, para realçar seu lugar como a nova Eva e mãe de toda a humanidade.

Diferentemente, os textos dos evangelhos de Lucas e João apresentam Maria como peregrina na fé, que se entrega o projeto de Deus, mesmo não compreendendo. Contempla e medita atenciosamente os acontecimentos, portanto, é alguém que precisa caminhar, que está em processo, que vive as alegrias e as esperanças, as tristezas e as dores da vida; que não tem dons sobrenaturais, alguém que é humana, e não uma deusa. Maria é aquela que convive com os pobres e faz a opção por eles, pois aprendeu isso de seu Filho. Nos evangelhos canônicos, principalmente em Lucas, Maria é discípula, peregrina na fé, pobre com os pobres, mulher agraciada pelo Espírito Santo.

Hoje percebemos uma tensão, como aconteceu entre os apócrifos e os livros canônicos. Ou seja, uma tensão entre os muitos aspectos da religiosidade popular em relação à Maria, que em sua maioria, têm suas raízes apócrifas e o que propõem a teológica bíblica atual. Portanto, faz-se necessário encontrar um justo equilíbrio entre piedade popular e teologia bíblica. Construir uma piedade que reflita e questione, que tenha pés no chão e mãos operosas, e uma teologia que medite e faça rezar. Resgatando, assim, a Maria presente na Bíblia, sem desconsiderar o que a tradição popular conservou de mais poético e belo. Assim, acredito, é possível encontrar Maria, toda humana e toda de Deus.

Texto: Marcelo Marins Gonçalves

sábado, 11 de julho de 2009

Oração: em Caná


Mãe, se sentires que meu vinho vai acabar
- e há bocas sempre mais numerosas
e sempre mais sedentas a atender –
pede a teu Filho
que a água das minhas fontes
valha vinho e desperte sede da água-viva que é Cristo
.

Texto: Dom Hélder Câmara
Imagem: da Internet

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A última noite de Maria

Um artigo de Frei Prudente Nery

No dia 1º de novembro de 1950, Papa Pio XII, após sondar a tradição da Igreja e ouvir todos os bispos católicos (1949), promulgou solenemente a “Assunção de Maria”. A Igreja verbalizava, assim, com clareza e em caráter definitivo, uma antiqüíssima convicção da fé cristã. Do Concílio de Calcedônia (451) ao Concílio Vaticano I (1869 - 1870), a crença de que Maria, por sua vida singular, estaria, já agora, na glória de Deus, foi professada por incontáveis cristãos.
Nós te louvamos, Senhor do universo. Pois, hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Ela é consolo e esperança para o teu povo ainda em caminho. Pois, nela, vemos o nosso futuro, canta o prefácio de sua festa. Pois esta é a nossa esperança: que, um dia, para além da morte e do mundo, seremos acolhidos por Deus, com tudo aquilo que compôs a nossa vida. Não apenas naquilo que fomos lá dentro de nós mesmos, em nossa interioridade (alma), mas também com tudo aquilo que, no âmbito de nossa vida, aprendemos a querer bem e que, por isso, passou a integrar a totalidade de nosso ser (corpo). Dentro e fora, o que fomos em nossos secretos sonhos (alma) e o que conseguimos ser em nossa realidade (corpo), o que construímos em nossa interioridade (alma) e o que partilhamos com os outros e recebemos do mundo (corpo).
Corpo, precisaríamos precisar melhor, é muito mais do que apenas este amontoado orgânico de células, a nossa carne. Ele é também o olhar, a destreza dos dedos, a generosidade das mãos, a palavra, o ouvir, o bailar, o drible, o saltar, o dobrar os joelhos, o suor, a lágrima, a luta, o afago que se dá e se recebe, o beijo, esta carícia dos corações.
Ainda que nos sintamos bem em nossa pele, nossa carne não é apenas o lugar do nosso ser, a visibilidade ou o sacramento de nosso mistério. Ela é também um limite e, em muitos casos, um terrível sofrimento. Nosso coração quer voar, mas a carne nos retém ali. A saudade nos convida para longe, mas, no cárcere de nossa carne, não podemos abraçar a pessoa amada. O espírito, lúcido ainda, quer realizar tantos sonhos, mas a força dos braços já não basta mais. E as dores inexprimíveis que, cravando-se na carne, roubam toda a alegria de viver.

Um dia, assim o cremos, no ocaso de nosso mundo e na manhã da eternidade, os limites cessarão e os sacramentos já não serão mais necessários, pois veremos a graça, face a face. De igual modo, também conosco. A casca rebentará e, de dentro do ovo, irromperá um pássaro de inimaginável beleza, a totalidade de nossa vida. Para trás ficarão alguns restos, já não mais necessários, pois foram apenas o lugar de maturação para o nosso último destino: a morada de Deus.
Em torno do ano 600, o Imperador Maurikios Flavios Tiberios determinou que fosse celebrada, em todo o território oriental do Império Romano, no dia 15 de agosto, a festa da Dormitio Mariae (O Sono de Maria), em recordação do dia em que a Mãe de Jesus Cristo teria deixado este mundo e ido para o céu. Pois contava-se, a essa época, que, certo dia, nossa mãe, Maria, recolheu-se em sua casa. Não se sabe bem se nas proximidades de Jerusalém, no Monte Sião, ou se em Panagia Kapulü, ao sul de Éfeso. E aí, no corpo, o cansaço dos muitos anos e, na alma, a saudade de seu filho, ela adormeceu. E naquela noite, enquanto ela dormia, vieram dos céus multidões de anjos e, tomando-a nos braços, carregaram-na para junto de seu filho.
Verdadeiramente: para aquele que crê, nunca a morte será um fim. Mas um sono, em que, desfeitos de nossos limites, finalmente voaremos ao encontro de Deus, nossa origem e nosso último destino.

(Frei Prudente Nery, grande teólogo brasileiro, faleceu em junho de 2009).